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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Um sacerdote precisa de permissão para celebrar uma missa “ad orientem”?
17:16
Unknown
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Um sacerdote precisa de permissão para
celebrar uma missa “ad orientem”?
Pergunta:
Olá,
Padre. Há pouco tempo, perguntei ao meu pastor se alguma vez ele celebraria a
Forma Ordinária da Missa versus Deum. Ele
me respondeu que uma permissão é necessária do bispo para tal. Eu nunca tinha
ouvido isto. Uma permissão é realmente necessária? Muito obrigado.
Resposta: Não,
não é necessária.
Uma
permissão implica a existência de uma lei, um regulamento. Um bispo diocesano
não pode estabelecer uma lei que contradiza as leis universais da Igreja. A
Santa Missa pode ser celebrada na forma versus
Deum ("ad orientem") ou versus populum (virado para Deus ou virado para o povo,
respectivamente) à escolha do sacerdote. De acordo com a lei,
permissões não são necessárias. Na
realidade, as rubricas do Missal, lidas apropriadamente, assumem que o padre está celebrando a missa
voltado à Deus, pois indica momentos em que ele se vira ao povo.
Aliás,
a Congregação para o Culto Divino esclareceu esta questão em 2000. AQUI.
Alguns
bispos têm – erroneamente – feito referência ao capítulo V da Instrução Geral
do Missal Romano (Nº 299) em tentativas de erradicar ou evitar a celebração ad orientem. Em vez disso, certamente
alguns subordinados dos bispos tem feito isto, uma vez que nenhum bispo seria
tão tolo a ponto de ignorar as regras da Congregação para o Culto Divino. Nem
seriam ignorantes a respeito da errônea tradução da IGMR 299 (originalmente em
Latim) que distorce o significado do parágrafo.
Algumas vezes você verá cartas de bispos – sem dúvidas
escritas por subordinados – que parecem proibir a celebração ad orientem por diversas razões, tais
como uma “unidade” quimérica (bem irônico, na verdade, dada a grande quantidade
de práticas e abusos não controlados acontecendo ao redor deles). Eles podem
até dizer abertamente: “Não celebre a Missa versus
Deum sem minha permissão”, o que não
tem o mínimo de base jurídica. Contudo, uma cuidadosa leitura destas cartas
revela que elas não estabelecem nenhuma política ou legislam nada. Elas
transmitem o puro desejo do bispo. Por vezes, esse desejo é demonstrado
extravagantemente, mas que se resume em: “Eu não gosto disso. Eu não quero
isso. Mas não posso fazer uma lei contra isso, portanto, aqui está uma carta
com algumas ameaças.”
Então, padres são livres para celebrar ad orientem.
Entretanto, tendo em vista o fato de que um bispo pode
crucificar um padre de mil maneiras desagradáveis, muitos não optam por
celebrar dessa maneira, mesmo que eles estejam abertos ou queiram fazer isso.
Seus direitos não significam tanto contra os poderes voltado contra eles.
E esta é a triste
realidade.
Por isso, em suas conversas com este padre, seja compassivo. Dependendo
da sua diocese, pode ser que ele, pessoalmente, gostaria de lhe acolher, mas
no fundo ele se preocupa com as consequências que isto poderia trazer.
______
Para citar: Fr. John
Zuhlsdorf. Um sacerdote precisa de
permissão para celebrar uma Missa “ad orientem”?. Publicado no blog: Regozija-te com a verdade
aos 20 de Dezembro de 2017. Tradução de Wellington de Oliveira Veloso. Publicado
originalmente no blog do Padre Z.
CARTA SOBRE A POSIÇÃO DO PADRE DURANTE A LITURGIA EUCARÍSTICA
17:15
Unknown
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CARTA SOBRE A POSIÇÃO DO PADRE
DURANTE A LITURGIA EUCARÍSTICA
Congregação para o
Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos
Prot. No 2036/00/L
A Congregação para o Culto Divino e
Disciplina dos Sacramentos foi perguntada se a expressão Nº 299 da Instrução
Geral para o Missal Romano se trata de uma norma de acordo com a qual, durante
a Liturgia Eucarística, a posição do padre versus
apsidem (de frente para a abside) deve ser excluída ou evitada.
A Congregação para o Culto Divino e
Disciplina dos Sacramentos, após uma madura reflexão e sob a luz de precedentes
litúrgicos, responde:
NEGATIVO, e de acordo com a seguinte
explicação:
A explicação incluí vários elementos
que devem ser levados em consideração:
A primeira coisa que deve-se ter em
mente é que a palavra expedit não
expressa uma obrigação, mas uma sugestão que se refere a construção do altar
separado da parede (a pariete sejunctum) e
também a celebração versus populum. A
cláusula ubi possibile sit (onde seja
possível) refere-se a diferentes elementos, como, por exemplo: a topografia do
local, a disponibilidade de espaço, o valor artístico do altar existente, a
sensibilidade das pessoas que participam de determinada igreja, etc. Isso reafirma que
a posição de frente para a assembleia parece mais conveniente na medida em que
isto torna a comunicação mais fácil, sem excluir, entretanto, a outra
possibilidade.
Contudo, qualquer que seja a posição do
padre celebrante, está claro que o Sacrifício Eucarístico é oferecido ao Deus
uno e trino, e que o principal, eterno e sumo sacerdote é Jesus Cristo, que
atua através do ministério do sacerdote que visivelmente preside como seu
instrumento. A assembleia litúrgica participa na celebração em virtude do sacerdócio
comum dos fiéis que requer o ministério do sacerdote ordenado para ser
exercido na Assembleia Eucarística. Deve-se distinguir a orientação física, especialmente no que diz respeito à comunicação entre os vários membros da assembleia, da orientação espiritual interior de todos. Seria um
grave erro imaginar que a principal orientação do ato sacrificial é direcionado
à comunidade. Se o padre celebra versus
populum, que é legítimo e frequentemente conveniente, sua atitude
espiritual deve ser sempre versus Deum
per Jesus Christum (em direção a Deus através de Jesus Cristo), como
representante de toda a Igreja. A Igreja também, que se concretiza na
assembleia da qual participa, está inteiramente voltada versus Deum como seu primeiro movimento espiritual.
Parece que a tradição antiga, embora
não sem exceção, era aquela em que o celebrante e a comunidade orante estavam
ambos voltados versus orientem (em
direção ao oriente, Leste), a direção de onde a Luz, que é Cristo, vem. Não é
incomum para igrejas antigas estarem “orientadas” de maneira que o sacerdote e
a assembleia estivessem voltados versus
orientem durante a oração pública.
Pode ser que quando existiam problemas de espaço,
ou de algum outro tipo, o altar representasse o Leste simbolicamente. Hoje a
expressão versus orientem frequentemente
significa versus apsidem, e ao falar de versus populum não é 'ao oeste' que isso significa, mas sim, em
direção à comunidade presente.
Na arquitetura antiga das igrejas, o lugar do
bispo ou do sacerdote celebrante estava no centro do altar onde, sentado e
voltado à comunidade, a proclamação das leituras era ouvida. Agora esse lugar
presidencial não foi atribuído à pessoa humana do bispo ou do padre, nem aos
seus dons intelectuais e nem mesmo a sua santidade pessoal, mas para seu lugar
como instrumento do Pontífice invisível, que é o Senhor Jesus.
Quando é uma questão de igrejas antigas, ou de
grande valor artístico, é apropriado, além disso, manter em mente as
legislações civis sobre mudanças ou reformas. Adicionar outro altar pode nem
sempre é a solução mais digna.
Não há necessidade de dar importância excessiva
a elementos que tenham mudado ao longo dos séculos. O que sempre permanece é o
evento celebrado na liturgia: que é manifestada através de ritos, sinais,
símbolos e palavras que expressam vários aspectos do mistério sem, contudo,
torna-lo exaustivo, pois isto os transcende. Tomar uma posição rígida e
absolutizar pode tornar-se uma rejeição de algum aspecto da verdade que merece
respeito e aceitação.
Cidade do Vaticano, 25 de Setembro de 2000.
Assinado: Congregação para Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
______
Para citar: Jorge Arturo
Medina, Francesco Pio Tamburrino. Carta
sobre a posição do padre durante a Liturgia Eucarística. Publicado no blog: Regozija-te com a verdade
aos 20 de Dezembro de 2017. Tradução de Wellington de Oliveira Veloso. Publicado
originalmente em adoremus.org
domingo, 17 de dezembro de 2017
"Eu te absolvo" - Reflexões do Cardeal Müller sobre a Confissão
19:04
Gabriel Luan Paixão Mota
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“Eu
te absolvo”
Reflexões do Cardeal Müller sobre a
Confissão
Muitos sugerem hoje que a absolvição
sacramental pode ser dada a penitentes que, devido a circunstâncias atenuantes,
podem ser ditos livres de culpa subjetiva diante de Deus, mesmo que continuem vivendo em um estado objetivo de pecado grave.
A distinção entre um estado objetivo do pecado e uma culpa subjetiva é
geralmente reconhecida pela tradição teológica católica. O que é mais
controverso é a sua aplicação à ordem sacramental. É possível usar a provável
ausência de culpa subjetiva como critério para a concessão da absolvição? Isso
não significaria converter os
sacramentos em realidades subjetivas, que são contrárias à sua própria
natureza como sinais de graça efetivos, visíveis e, portanto, objetivos?
Para responder a esta pergunta, é necessário
ir às raízes do sacramento da reconciliação. Em seu amor por nós, Deus toma os
seres humanos tão seriamente que entrega seu Filho unigênito à morte mais
horrível e vergonhosa na Cruz (Jo 3, 16), para que nossos pecados possam ser
perdoados e possamos reconciliar-nos com Ele (2 Cor 5,19). Se tal é o preço da
nossa salvação, então os bispos e os sacerdotes não podem levar de forma
leviana a autoridade que receberam do próprio Cristo (Mt 18, 18; Jo 20, 22)
para perdoar os pecados que um penitente confessou e se arrependeu.
Porque é com a autoridade divina que o
apóstolo pronuncia a palavra de reconciliação aos fiéis (2 Cor 5,20). O
sacramento da reconciliação com Deus e com a Igreja como corpo de Cristo exige
a confissão de todos os pecados graves em sua totalidade. Esta necessidade deriva da preocupação com a salvação eterna
que, como tal, tem maior importância do que o sentido transitório de conforto
de um cristão, a que o confessor possa ter medo de perturbar. Para julgar
se deve perdoar ou reter os pecados de alguém (Jo 20,23) o sacerdote deve
conhecer quais pecados graves o penitente cometeu. Estes são os pecados
públicos e privados cometidos em seus pensamentos, palavras, ações e omissões,
que violaram os mandamentos de Deus, que são a revelação de seu santo e
santificador plano de amor por nós.
Leia também: A explicação do Cardeal Coccopalmerio esclarece a Amoris Laetitia?
Leia também: A explicação do Cardeal Coccopalmerio esclarece a Amoris Laetitia?
Não basta simplesmente chamar-se pecador em
geral. Isso poderia facilmente ser uma desculpa: está sujeito à fraqueza
humana, como todos os outros. Os pecados seriam então relativizados como
defeitos humanos omnipresentes. Na realidade, no entanto, o cristão batizado
não está aprisionado na dialética de Lutero de simul iustus et peccator ("ao mesmo tempo, uma pessoa justa e
pecadora"). Através do batismo, fomos verdadeiramente regenerados. Já não
somos escravos do pecado, mas nos tornamos amigos e filhos de Deus. Estamos em
um estado de graça santificante. Não é necessário que o pecado se separe da
fraqueza restante (concupiscência). Pelo contrário, o pecado é o resultado de
um ato consciente e deliberado contra a santidade de Deus e o amor de Cristo
que derramou seu sangue na Cruz para o perdão dos pecados. Foi ao aceitar
livremente a fé e a graça que nos convertemos em filhos de Deus. Do mesmo modo,
necessitamos cooperar com a vinda do Reino a este mundo, servindo o cumprimento
da vontade de Deus na terra como é no céu. Toda a vida do cristão é uma
imitação contínua do Senhor crucificado e ressuscitado. Pelos pecados graves
nos separamos de Deus e nos excluímos da herança da vida eterna.
O
amor não torna desnecessário o cumprimento dos mandamentos de Deus
O amor não torna desnecessário o cumprimento
dos mandamentos de Deus, senão que é sua forma mais profunda de realização. Os
mandamentos não são receitas externas, que prometem recompensas àqueles que as
cumprem e ameaçam com castigo àqueles que não as observam. Em vez disso, eles
são a revelação do plano salvífico de Deus, que indica o caminho do seu amor.
Todo pecado mortal é uma contradição consciente e deliberada da vontade de
Deus. Este é o aspecto formal que
converte um ato mau em um pecado mortal, cujo aspecto material é o conteúdo da
ação. Por isso, o apóstolo Paulo pode dizer categoricamente: "Nem os
imorais nem os idólatras nem os adúlteros... herdarão o reino de Deus" (1
Cor 6, 9-10).
O Concílio de Trento (1551) ensina que os
pecados mortais nos tornam inimigos de Deus e nos levam à condenação eterna a
menos que nos arrependamos, confessemos nossos pecados e, com as obras de
reparação, obtenhamos a absolvição e a restauração do estado de graça
santificante. O penitente, portanto, tem que confessar ao seu confessor todos
os pecados mortais públicos e privados de que tem conhecimento após um sério
exame de consciência (DH 1680). Ele ou ela também precisa indicar aquelas
circunstâncias que podem mudar a natureza do pecado (DH 1681). O que é referido
aqui não são as circunstâncias atenuantes que reduzem a gravidade da culpa e
nos fazem merecer uma pena menor. Em vez disso, se refere àquelas circunstâncias que mudam a espécie do ato e,
portanto, exigem um tipo diferente de penitência e castigo, que deve ser
determinado pelo confessor que atua como juiz. É importante enfatizar que a
motivação do confessor é a salvação do penitente.
Portanto, o Concílio tem toda razão ao
rejeitar a polêmica protestante que vê nesse requisito de confissão de todos os
pecados uma espécie de "tortura de consciência" no confessionário (DH
1682). O que acontece se o penitente não é responsável por seus pecados, por
falta de conhecimento ou responsabilidade? A liberdade de uma pessoa pode ser
afetada devido à ignorância. Somente
Deus é capaz de julgar a culpabilidade subjetiva de uma pessoa. Tudo o que
o confessor pode fazer é ajudar cuidadosamente o penitente em seu exame de
consciência. Mas nem mesmo o penitente é
capaz de dizer em que medida Deus o responsabiliza pelo pecado. Tratar de
fazê-lo simplesmente significaria justificar-se.
Inclusive se estou consciente de não ter culpa
alguma, não posso estar absolutamente seguro de minha salvação e devo sempre me
confiar ao julgamento da graça de Deus. A
Igreja não pode avançar ao ponto de intervir no juízo de Deus. Os apóstolos
e, portanto, os bispos e sacerdotes são apenas servos de Cristo e
administradores de seus sacramentos. Eles podem administrar os sacramentos como
um meio de graça somente de acordo com a forma como Cristo os instituiu e de
acordo com seu mandato à Igreja.
Absolver
sem ter arrependimento confirma o pecador no erro
Também devemos ter em conta a possibilidade de que a ignorância seja
culpável por si mesma, como quando serve de desculpa para não ter que mudar
o modo de vida. Lembremo-nos do ensinamento do Concílio de Sens, segundo o qual
se pode pecar mesmo que alguém aja com ignorância (DH 730). Mesmo que um
confessor possa encontrar razões que falem em favor da responsabilidade
diminuída de um penitente, o confessor não deve esquecer que essas mesmas
razões o impedem de discernir sua situação diante de Deus da maneira correta. De
toda forma, dizer "eu te absolvo" nesses casos equivaleria a confirmar o erro em que a pessoa vive, um erro que
prejudica profundamente a sua capacidade de viver de acordo com o plano amoroso
de Deus.
É crucial recordar que os sacramentos não são
encontros privados e interiores dos fiéis com Deus, mas expressões visíveis da
fé da Igreja. Esta é a razão pela qual a disciplina eclesial que governa a
admissão aos sacramentos sempre exigiu que os fiéis não estejam em contradição
com o modo de vida cristão. Santo Tomás diz que admitir alguém aos sacramentos
que continua a viver em pecado significa
introduzir "uma falsidade nos sinais sacramentais" (Suma III,
q.68, a.4). Portanto, alguém poderia
estar sem culpa diante de Deus por causa da ignorância invencível e ainda assim
não ser capaz de receber a absolvição.
Leia também: É possível corrigir um Papa?
As palavras "eu te absolvo dos teus pecados" não ratificam a falta de responsabilidade do arrependido diante de Deus. Em vez disso, elas expressam e adquirem sua reconciliação com Deus, sua reincorporação no corpo visível de Cristo, que é a Igreja. Portanto, para que essas palavras sejam significativas, o penitente deve tomar a firme resolução de viver de acordo com o modo de vida que Cristo nos ensinou e que a Igreja dá testemunho no mundo. Fazer o contrário seria "subjetivar" a economia sacramental da Igreja, convertendo-a em uma função do nosso relacionamento invisível com Deus. Significaria descartar os sacramentos da carne visível de Cristo e seu corpo, que é a Igreja.
As palavras "eu te absolvo dos teus pecados" não ratificam a falta de responsabilidade do arrependido diante de Deus. Em vez disso, elas expressam e adquirem sua reconciliação com Deus, sua reincorporação no corpo visível de Cristo, que é a Igreja. Portanto, para que essas palavras sejam significativas, o penitente deve tomar a firme resolução de viver de acordo com o modo de vida que Cristo nos ensinou e que a Igreja dá testemunho no mundo. Fazer o contrário seria "subjetivar" a economia sacramental da Igreja, convertendo-a em uma função do nosso relacionamento invisível com Deus. Significaria descartar os sacramentos da carne visível de Cristo e seu corpo, que é a Igreja.
Há um caso de natureza completamente
diferente se, por razões externas, era impossível esclarecer canonicamente o
status de uma determinada união e, por exemplo, um homem tem provas de que o
casamento anterior com uma mulher era inválido, embora por algum motivo ele não
possa provar no foro eclesial. Este caso é completamente diferente daquele em
que uma pessoa validamente casada que pede o sacramento da Penitência, sem
querer abandonar uma relação sexual estável com outra pessoa, seja como um
concubinato ou como um "casamento" civil, o qual não é válido diante
de Deus e da Igreja. Enquanto que nesta última situação há uma contradição com
a prática sacramental da Igreja (uma
questão de direito divino), na primeira o debate se centra no modo de
determinar se um matrimônio era nulo ou não (uma questão de lei eclesiástica).
O
Cristo justo contra o Jesus misericordioso
Teologicamente, as coisas são muito claras. As
palavras de Cristo, o ensinamento dos Apóstolos e, portanto, o dogma da Igreja,
constituem um guia claro para qualquer esforço pastoral para apoiar o cristão
individual em sua peregrinação a Deus. Foram os antigos fariseus (cujo nome
hoje em dia é frequentemente usado como termo depreciativo) que tentaram
colocar Jesus no mesmo lugar em relação à indissolubilidade do casamento. Por
um lado, todos querem se apegar à indissolubilidade conjugal como parte do
plano do Criador para o matrimônio entre um homem e uma mulher. Por outro lado,
alguns procuram contornar o mandamento
de Cristo. Seu pretexto é que, além do "Cristo rigoroso" como
legislador da Nova Aliança, há também o "Jesus misericordioso" do
Evangelho, familiarizado com o fato de que o ideal enfrenta a realidade
concreta da humanidade que é interrompida pelo pecado de Adão. No entanto, Jesus responde não como fariseu, mas contra
os fariseus, e mesmo contra a objeção dos apóstolos que afirmam conhecer a
práxis humana e a realidade melhor que o próprio Jesus, que "aquele que se
divorcia de sua mulher e se casa outra comete adultério", que também se
aplica a uma mulher que se casa com um homem que não é solteiro ou viúvo (Mc
10, 11-12).
De acordo com o apóstolo Paulo, se os cônjuges
se separarem, deveriam se esforçar para se reconciliar. Se a reconciliação não
for possível, eles devem permanecer solteiros até a morte do companheiro
legítimo (1 Cor 7, 11,39). Todos concordam que a recepção sacramental da Sagrada
Comunhão só é frutífera quando se encontra em estado de graça santificante.
Porém, independentemente da questão do
estado subjetivo de graça de alguém (ao qual somente Deus é juiz) é necessário
que aqueles que vivem em uma contradição objetiva com os mandamentos de Deus e
a ordem sacramental da Igreja tomem a determinação de mudar seu modo de vida
para receber a reconciliação com Deus e a Igreja no sacramento da penitência.
Leia também: Reflexões da Dra. Anna Silvas sobre a Amoris Laetitia (Parte 01)
Em muitas situações complicadas, diante de ideologias hostis ao matrimônio e em um contexto em que a transmissão da fé tem sido muitas vezes superficial, o sábio administrador da graça divina guiará gentilmente os cristãos, que buscam sinceramente uma vida de fé, para ver a situação familiar à luz do Evangelho de Cristo. Nos casos em que há motivos graves para não ser dissolvido o [segundo] vínculo e onde não seja possível obter uma declaração de nulidade do primeiro casamento, a finalidade deste caminho, muitas vezes difícil e longo, é que as pessoas vivam juntas como irmãos e irmãs e, portanto, também tenham acesso à Sagrada Comunhão.
Em muitas situações complicadas, diante de ideologias hostis ao matrimônio e em um contexto em que a transmissão da fé tem sido muitas vezes superficial, o sábio administrador da graça divina guiará gentilmente os cristãos, que buscam sinceramente uma vida de fé, para ver a situação familiar à luz do Evangelho de Cristo. Nos casos em que há motivos graves para não ser dissolvido o [segundo] vínculo e onde não seja possível obter uma declaração de nulidade do primeiro casamento, a finalidade deste caminho, muitas vezes difícil e longo, é que as pessoas vivam juntas como irmãos e irmãs e, portanto, também tenham acesso à Sagrada Comunhão.
Leia também: Reflexões da Dra. Anna Silvas sobre a Amoris Laetitia (Parte 02)
Além disso, não devemos esquecer que a fé católica não reduz o mistério da Eucaristia à recepção da Sagrada Comunhão. O que é decisivo é, antes de tudo, a participação no Sacrifício Eucarístico. A principal preocupação dos pastores da Igreja deve ser o cumprimento dos fieis de sua obrigação dominical. Deus certamente não negará seu amor àqueles que, apesar das repetidas falhas, pede humildemente sua graça, para que possam cumprir os mandamentos. Especialmente em vista de nossos próprios pecados, devemos respeitar e ajudar amorosamente, na nossa peregrinação comum, aqueles nossos irmãos e irmãs que sentem que estão em um dilema quando se trata de situações familiares e que, apesar de sua boa vontade, eles nem sempre conseguem viver de acordo com os mandamentos de Deus. É verdade que os confessores também são juízes. Mas eles desempenham esse papel não por orgulho humano, para condenar o pecador. Em vez disso, seu juízo é como o diagnóstico de um médico sábio, que procura conhecer a natureza da doença e depois derrama azeite e vinho nas feridas, assim como fez o samaritano misericordioso, devolvendo as pessoas ao refúgio da Santa Mãe Igreja.
Além disso, não devemos esquecer que a fé católica não reduz o mistério da Eucaristia à recepção da Sagrada Comunhão. O que é decisivo é, antes de tudo, a participação no Sacrifício Eucarístico. A principal preocupação dos pastores da Igreja deve ser o cumprimento dos fieis de sua obrigação dominical. Deus certamente não negará seu amor àqueles que, apesar das repetidas falhas, pede humildemente sua graça, para que possam cumprir os mandamentos. Especialmente em vista de nossos próprios pecados, devemos respeitar e ajudar amorosamente, na nossa peregrinação comum, aqueles nossos irmãos e irmãs que sentem que estão em um dilema quando se trata de situações familiares e que, apesar de sua boa vontade, eles nem sempre conseguem viver de acordo com os mandamentos de Deus. É verdade que os confessores também são juízes. Mas eles desempenham esse papel não por orgulho humano, para condenar o pecador. Em vez disso, seu juízo é como o diagnóstico de um médico sábio, que procura conhecer a natureza da doença e depois derrama azeite e vinho nas feridas, assim como fez o samaritano misericordioso, devolvendo as pessoas ao refúgio da Santa Mãe Igreja.
***
Cardeal Dom Gerhard Ludwig Muller, ex-prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé.
***
Para citar: Muller, Cardeal Gerhard Ludwig. Eu
te absolvo: Reflexões do Cardeal Müller sobre a Confissão. Publicado no
blog Regozija-te com a verdade, aos 17 de dezembro de 2017. Tradução de Gabriel
Luan Paixão Mota. Originalmente a matéria foi publicada em First Things.
segunda-feira, 12 de junho de 2017
O noivado de José e Maria
11:17
Gabriel Luan Paixão Mota
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O
NOIVADO DE JOSÉ E MARIA
José
apareceu aos olhos de Maria como o homem providencial que a havia de permitir
viver no estado de virgindade para o qual se sentia chamada pelo Senhor.
Encontrando-o compreendeu que lhe era acessível este ideal e que podia
desposar-se com ele.
Hoje
admiramo-nos de que tendo tomado a resolução de permanecer Virgem, Maria se
tenha decidido pelos desposórios e pelo casamento. Mas no ambiente em que vivia
não conhecia outro caminho. Em Israel não existia a instituição da virgindade,
não havia comunidades de virgens e o ideal de uma consagração virginal a Deus
não era apreciado nem praticado. Este ideal começou, quando muito, a impor-se a
um outro grupo de ascetas vivendo no deserto. Pensando no seu futuro, Maria
teve de persuadir-se de que a melhor proteção da sua virgindade estava no
casamento, contanto que pudesse encontrar um homem que estivesse animado do
mesmo ideal, persuadido da excelência da castidade virginal e decidido a
respeitá-la. Além disso, a Providência que queria assegurar um lar para o
Menino Jesus impelia secretamente Maria neste sentido.
Contudo,
a Virgem podia perguntar se encontraria um homem que aspirasse ou consentisse
numa união virginal. Não seria, porventura, necessária uma alma excepcional?
Grande foi a felicidade de Maria quando descobriu em José uma alma enamorada do
mesmo ideal de pureza. Ficou admirada com a elevação dos seus sentimentos.
Por
isso, o noivado foi o resultado espontâneo desta comunhão no mesmo ideal e, ao
mesmo tempo, de uma profunda e recíproca estima.
Leia também: O encontro de José com Maria
Maria
admirou igualmente, naquelas circunstâncias, a ação da divina Providência. Não
devia ela cantar, no seu silêncio íntimo, o primeiro Magnificat? Com grande entusiasmo
agradeceu ao Senhor por haver colocado no seu caminho um jovem destinado a
ajudá-la a realizar a sua missão. José era um dom extraordinário da bondade
divina.
Este
primeiro Magnificat, como o que havia de cantar alguns meses depois, era um
hino de gratidão proferido em nome de todos os humildes. Era um humilde, um
desconhecido que Deus acabava de oferecer à Virgem como esposo. Enquanto o
sonho clássico da jovem é ser esposa de um rei, Maria entusiasmava-se com a
escolha divina preferindo os que não se distinguem pela grandeza exterior e
vivem na sombra. A pessoa de José tinha, aos seus olhos, tanto maior estima
quanto o seu valor era todo interior, escondido numa alma humilde. A grandeza
de Deus revela-se nela imensamente mais.
Quando
José escolheu Maria para esposa trocando com ela a promessa, não fez senão
ratificar a escolha divina. Tinha sido escolhido entre muitos para ser esposo
daquela que havia de ser a Mãe de Deus. Naquele momento podia intuir o infinito
amor divino encerrado naquela escolha. Começava apenas a suspeitá-lo, a ter
consciência do privilégio de possuir uma esposa tão perfeita. No íntimo da alma
podia também ele elevar ao Senhor um hino de agradecimento semelhante ao
Magnificat da Virgem.
Os
desposórios, quer para José quer para Maria, começaram com um entusiasmo todo
dirigido a Deus. Se Maria foi a primeira a apreciar as qualidades de José,
precedendo a Igreja na sua veneração, José foi o primeiro a agradecer a Deus o
dom imenso concedido ao mundo com a beleza espiritual de Maria. Ao ver como
esta beleza iluminava a sua vida, dava graças a Deus.
O
período dos desposórios não fez senão confirmá-lo na sua admiração. José sentia
brotar em seu coração o verdadeiro culto pela noiva tão cheia da graça divina.
No seu coração começava a formar-se o culto que a Igreja há de prestar à
Virgem. Era um impulso em que se misturava, juntamente com o seu amor, a
admiração por uma alma onde tudo era reflexo de Deus.
Serão
precisos vários séculos para que a Igreja descubra novamente aquele que foi o
noivo de Maria. Quando, porém, o descobrir, José tornar-se-á padroeiro dos
desposórios cristãos.
Leiam também: A personalidade de São José
O
sentimento religioso cristão apreciará a alegria concedida a Maria por ter
encontrado um noivo ideal. Ela pedirá a José que proporcione semelhante alegria
às jovens que sentem grandes possibilidades de amor, esperando naquele que lhes
permitirá exprimi-lo.
A
escolha de um companheiro ou de uma companheira para a vida é tão difícil como
importante. Quem não tem diante de si tristes exemplos de uniões infelizes e
desgraçadas? A escolha de um noive ou de uma noiva tem uma influência decisiva
para muitas vidas humanas. É com razão que se devem dirigir a José para que a
escolha feita pelos homens coincida com a escolha feita por Deus. Não é ele o
intercessor ideal para conseguir e concurso daquelas circunstâncias
providenciais que hão de proporcionar-se e suscitar a união de duas pessoas
feitas para viverem juntas?
Para
que a escolha humana possa corresponder à escolha divina, José inspira-nos a
preocupação de ter mais em conta as qualidades da alma do que as qualidades
físicas, inspira-nos a preocupação da beleza espiritual, o encanto mais misterioso
e mais sólido conferido pela presença da graça divina. Anima a aspiração de
encontrar no outro o que ele mesmo buscava e encontrava na Virgem, a perfeição
que aproxima de Deus.
Depois,
feita a escolha, é ainda José o guia no progresso do amor no noivado. Este amor
possui um perfume especial que só na pureza se pode conservar. José, que
conservou sempre esta pureza, não desejando senão a união virginal, comunica o
desejo de realizar este ideal durante o noivado. Ensina a gozar a intimidade de
uma alma, a evitar tudo o que pode ofuscar ou diminuir a sua beleza espiritual.
Estimula a delicadeza na manifestação dos sinais de afeito e fortifica a
vontade no respeito sagrado para com a pessoa que se ama. Procura colocar o
Senhor no centro deste amor.
Os
seus desposórios com Maria são um modelo que o noivado cristão procura imitar.
De acordo com a Virgem, José é aquele que nos ensina a amar. Guia os esposos
por um caminho em que o amor não cessa de elevar-se com a maior nobreza de
sentimentos. Aumenta imenso o impulso de amor, fazendo-nos entrever no amor
humano o dom do amor divino. Faz considerar o amor como um chamamento à
santidade.
Será
para sempre o noivo por excelência, aquele que atingiu o cume do amor dos
desposórios, guiando todos os noivos neste mesmo sentido e ao mesmo tempo ajudá-los-á
a considerar Maria como noiva ideal.
Nos
desposórios, José não é só o modelo dos noivos. Como o compromisso tomado com
Maria importava ao mesmo tempo uma promessa de virgindade, o seu exemplo
apresenta-nos um aspecto importante da consagração virginal. Aqueles que fazem
ao Senhor o voto de castidade perfeita são por ele introduzidos numa intimidade
especial com Nossa Senhora. José faz realizar-lhes o privilégio desta
intimidade, a felicidade de possuir na vida a companhia de uma presença
feminina capaz de suscitar toda a poesia do amor, mas unicamente destinada a
elevar a alma para Deus. José, ensinado pela própria experiência faz
saborear-lhes toda a beleza espiritual de Maria, e aumenta neles o desejo de
uma pureza absoluta para poder participar do ideal de Maria.
_____
Para citar: GALOT,
Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel
Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado
no blog Regozija-te com a verdade aos 12 de junho de 2017.
quarta-feira, 7 de junho de 2017
O encontro de José com a Maria
17:22
Gabriel Luan Paixão Mota
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O
ENCONTRO DE JOSÉ COM MARIA
Um
encontro decidiu o destino de José! Foi um dia em que o seu olhar se cruzou com
o de Maria.
Aparentemente
era um encontro semelhante a tantos outros quando um jovem depara com uma moça
que lhe agrada para ser sua esposa. José ficou intimamente deslumbrado, ficou
encantado, seduzido. Um futuro de felicidade parecia abrir-se-lhe diante.
Na
realidade foi um encontro como não tinha havido outro na terra. Na frescura
primaveril do seu amor nascente, era diferente de qualquer outro. José ficara
impressionado com a incomparável beleza duma alma que era a pureza e a
perfeição inigualáveis.
"Salve, ó cheia de graça!" havia de
em breve proclamar o anjo Gabriel. Ao contemplar a beleza da Virgem, o anjo
havia de reconhecer nela a efusão maravilhosa da graça divina. José não podia
descobrir esta graça com o olhar espiritual de um anjo, mas pressentia-a
confusamente e experimentava o seu encanto admirável. Descobriu em Maria a
existência de uma alma superior, de uma impressionante perfeição.
Muitos
tinham passado por ela sem pararem nem descobrirem nela nada especial. A
simples beleza corporal de Maria não era tão grande que atraísse os olhares. O
jardim permanecia fechado e escapava ao mundo dos sentidos. O olhar ávido de
beleza exterior deslizava por aquele rosto sem poder penetrar no íntimo. Para
chegar à alma da Virgem era preciso um olhar profundo, liberto dos laços
sensíveis.
José
deve, pois, à sua grandeza de alma o fato de encontrar e descobrir Maria.
A
profundidade do olhar de José não era só uma qualidade natural, era um dom
sobrenatural. De há muito o Espírito Santo tinha preparado este encontro. Não
só tinha dado a José a força especial para vencer as inclinações e
reivindicações do instinto, mas tinha sintonizado a sua alma com a de Maria.
Certamente José estava longe de possuir a perfeição de Nossa Senhora, mas uma
graça superior tinha purificado aquele esplendor escondido. E o Espírito de
amor tinha formado de modo especial o seu coração para que concordasse com o
coração imaculado que se lhe oferecia.
Graças
a esta harmonia preestabelecida, o encontro assinalou a fusão daquelas duas
almas. No decurso dos séculos aqueles que encontrarem Maria ficarão admirados
com a sua beleza, mas fá-lo-ão igualmente iluminados pelo Espírito Santo que
tinha esclarecido e purificado o olhar de José. Só uma alma sobrenaturalmente
orientada pode descobrir Nossa Senhora.
Naquele
primeiro encontro o Espírito Santo estabeleceu um futuro que José então não
podia discernir. Sem dúvida pressentiu em Maria a Divindade e notou que nunca
se tinha aproximado tanto de Deus. Não podia, porém, saber até que ponto era
verdadeiramente atraído pelo rosto de Deus através do rosto de Maria. Não podia
ter consciência, naquele momento, de tudo o que sentia e apreciava confusamente
naquele encontro.
Muitos
anos depois, vivendo em companhia de Maria e de Jesus, ao verificar a profunda
semelhança entre eles, descobrirá que tendo sido fascinado por Maria, o tinha
sido na realidade pelo próprio Jesus. Maria escondia em si a imagem de Cristo.
José, ao encontrá-la, encontrara primeiro a Cristo.
Assim
como o Salvador, durante a sua vida pública, há de atrair aqueles que
encontrara, ou até seduzir, era ele que misteriosamente atraía José e, através
do rosto puro de Maria, se apoderava da sua alma.
José
experimentou deste modo o que muitos depois dele hão de experimentar seduzidos
pelo encanto de Maria. Cedia assim às seduções do amor divino que ela em si
escondia.
Afeiçoava-se
ao rosto de Jesus que já se delineava no da mãe. Na Virgem, sem o saber,
procurava e encontrava o Salvador por vir.
No
momento em que José reconheceu em Maria a mulher ideal, aceitou o convite que
lhe era feito. A beleza espiritual de Maria encantou-o tanto que quis guardar
esta presença sagrada. Só tinha um desejo: viver na intimidade desta alma única
no mundo.
Se
podemos comparar este encontro com o de Adão e Eva, antes do pecado que havia
de ensombrar a humanidade e aviltar os outros encontros, devemos notar que a
nova Eva, diferentemente da antiga, elevou o homem para o alto. A primeira Eva
empregou a sua influência sobre Adão para o fazer seguir a inclinação da sua
fraqueza. Maria, desde o primeiro momento do encontro, elevou José tornando-o
superior a si mesmo.
Olhando
para ela, José sentiu-se melhor. Impressionado com a perfeição e santidade
desta alma, despertaram-se nele aspirações mais nobres.
Em
particular, compreendeu que para viver em companhia de Maria devia manter-se na
maior pureza e deu-se conta que para conservar a sua missão no nível mais
elevado devia estabelecer-se na limpidez virginal. Podemos considerar que o
encontro com Maria levou José a tomar a resolução da virgindade. Embora tivesse
sido secretamente orientado nesse sentido pela graça, foi só na presença de
Maria que compreendeu toda a beleza da vida virginal, sentindo todo o seu
encanto e enlevo.
Não
foi só uma questão de respeito perante o desejo e a vontade de Maria. José
compreendeu que não podia verdadeiramente unir a sua vida à de Maria senão
associando-se à sua virgindade. Era um ideal que devia compartilhar.
Foi o
primeiro a quem Maria inspirou o encanto deste ideal. Em Maria a Virgindade não
era simples salva guarda de si mesma, nem austera renúncia às inclinações
sensíveis, era a chama de um grande amor, de um amor que devia ser espiritual
para ser um amor mais puro. Era também um amor cheio de frescura, desconhecendo
as perturbações da paixão. Descobrindo esta chama no olhar de Maria, José quis
também vivê-la e compreendeu com quanta delicadeza devia conservar esta
limpidez virginal. Depois dele muitos outros puderam testemunhar que a
influência de Maria foi decisiva para eles na consecução deste ideal elevando a
sua alma para o amor mais nobre.
Assim
se reconhecia, da maneira mais evidente, que o fulcro central deste encontro
era Deus. Deus era o traço de união. De fato, Maria só vivia para Deus e
desejava manter a sua virgindade para se unir mais a ele. Não se podia penetrar
na intimidade de Maria senão entrando na intimidade divina. Com toda a sua
pessoa inspirava o encanto virginal de Deus. José foi, pois, impelido por esta
dupla aspiração: elevar-se para Deus seguindo o caminho da virgindade.
Depois
deste encontro como lhe pareceram mais pequenas as coisas deste mundo! A alma
de Maria era tão grande.
Esta
descoberta iluminará a existência de José. Maria tornou-o participante da
grandeza e da pureza do seu amor.
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Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 07 de junho de 2017.
terça-feira, 30 de maio de 2017
Fundações Beneditinas Tradicionais
09:48
Gabriel Luan Paixão Mota
1 comment
AS FUNDAÇÕES
BENEDITINAS TRADICIONAIS
Nesta entrada oferecemos uma
recordação das fundações beneditinas tradicionais que foram reconhecidas pela
Santa Sé ou pelos ordinários do lugar.
1.
A Abadia Notre-Dame de Fontgombault
A Abadia Notre-Dame de Fontgombault
foi fundada em Vale do Loire por Pedro da Estrela em 1091. Por distintas razões
históricas deixou de ser um mosteiro beneditino, restabelecendo-se em 1948 o
culto monástico. Desde seu restabelecimento tem preservado a tradição litúrgica
gregoriana e, a partir de 1985, celebra exclusivamente de acordo com os livros
litúrgicos anteriores à reforma pós-conciliar.
Esta abadia se tornou conhecida por
ter acolhido entre 22 e 24 de julho de 2001 algumas Jornadas litúrgicas que contaram
com a participação do então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé,
Cardeal Joseph Ratzinger, mais tarde elevado à Cátedra de Pedro com o nome de
Bento XVI, quem deu interessantes conferências, uma delas a de clausura.
Segundo disse nessa ocasião o abade Dom Antonine Forget, as Jornadas estavam
destinadas a dar início a um novo Movimento Litúrgico, o que em parte se tornou
realidade com a promulgação do Motu Proprio Summorum Pontificum em 2007.
Leia também: A personalidade de José, esposo de Maria
Leia também: A personalidade de José, esposo de Maria
Na atualidade é a comunidade mais
numerosa da Congregação de Solesmes, com mais de setenta monges, o que tem
possibilitado a fundação de novos monastérios que também usam a forma
extraordinária e pertencem a essa célebre abadia:
a) A Abadia de Notre-Dame de Randol,
fundada em 1971 na região de Auvernia (França), também adotou a liturgia
tradicional em 1984.
b) A Abadia de Notre-Dame de Triors,
fundada em 1984 na região de Ródano-Alpes (França), adotou em 1988 a liturgia
tradicional.
c) A Abadia de Notre-Dame de Gaussan,
fundada em 1994 na região de Languedoc-Rosellón (França), adotou desde sua
criação o uso dos livros litúrgicos tradicionais. Em 2007, a Abadia foi
transferida para a região de Mediodia-Pirineos (França). Hoje se chama Abadia
de Notre-Dame de Donezan.
d) A Abadia de Nossa Senhora da Anunciação
de Clear Creek, fundada em 1999 em Oklahoma (EUA), adotou desde sua criação o
rito romano tradicional.
e) A Abadia de São Paulo de Wisques está
situada na região de Alta França, onde os monges provenientes de Fontgombault
chegaram em 2013 para dar um novo impulso a comunidade estabelecida ali desde
1889. Desde então a Abadia adotou a forma extraordinária.
No total, todos estes monastérios
criados desde Fontgombault somam mais de duzentos monges que seguem a regra de
São Bento. Um dado interessante é que todos estes monastérios não celebram
exatamente com os livros litúrgicos vigentes em 1962 (como ocorre com quem se
serve do direito concedido pelo Motu Proprio Summorum Pontificum), mas com o assim denominado Ordo de 1965. Eles
mesmos explicam assim sua decisão de não existir estritamente a chamada forma
extraordinária:
"[...] os
monges das quatro abadias fundadas por Fontgombault não celebram com o missal
chamado de São Pio V utilizado pelos sacerdotes 'tradicionalistas' e cuja
última edição foi aprovada por São João XXIII em 1962. Na Missa conventual os
beneditinos celebram segundo o Ordo
Missae de 1965. Mesmo os liturgistas têm esquecido que o Papa Paulo VI publicou
um novo Ordo naquele ano (o qual foi muito bem recebido por Mons. Lefebvre).
Certamente as simplificações que apresentava eram mínimas quando comparado com
a Missa puramente 'tridentina', mas elas merecem ser recordadas. Assim, o Ordo
de 1965 retomava a antiga proclamação das intenções a serem rezadas antes do
ofertório (orações universais), suprimiu uma parte das 'orações ao pé do
altar', assim como o 'último Evangelho' (prólogo de São João), e previa que
aquilo que era cantado pela schola ou
a assembleia não fosse repetido em privado pelo celebrante. O Pater Noster era cantado por toda a assembleia juntamente com o
celebrante, prática que se fazia há vários anos já nas paróquias e que se pode
encontrar hoje mesmo em certos grupos 'inconformados' com a modalidade pura da
'forma extraordinária' do rito romano. Mas acima de tudo isso, o Ordo de 1965
restaurava o ritual da concelebração que havia sido abandonado no transcurso da
Idade Média."
2. A Abadia de Santa-Madalena de
Barroux
Outro grande monastério beneditino
que segue a forma extraordinária é a Abadia de Santa-Madalena de Barroux,
situada na região de Provença-Alpes-Costa Azul (França) e que conta atualmente
com cerca de sessenta monges. Foi fundado por Dom Gérard Calvet em 1978, sendo
em sua origem um mosteiro associado à Fraternidade Sacerdotal São Pio X criada
por Sua Excelência Reverendíssima Marcel Lefebvre. Depois das sagrações
episcopais, em 25 de julho de 1988 a abadia regularizou sua situação com a
Santa Sé através da recém erigida Pontifícia Comissão Eclessia Dei. Dez anos
depois, em 25 de setembro de 2008, a abadia se integrou a Confederação
Beneditina e a Congregação do Subiaco. Em 24 de setembro de 1995 o Cardeal
Joseph Ratzinger celebrou a Missa conventual com grande presença de fiéis.
A Abadia fundou um priorado e uma
abadia de monjas beneditinas. Daqui procedem os monges que deram origem aos
Beneditinos da Imaculada, hoje um instituto de vida consagrada de direito
diocesano independente.
a) O Priorado de Santa Maria da Guarda
foi fundado em 2002 na região de Nova Aquitania (França).
b) A Abadia da Anunciação de Barroux é
uma comunidade feminina de monjas beneditinas, fundada em 1979 nos arredores do
mosteiro de Santa-Madalena, que em 1989 regularizou sua situação com a Santa
Sé.
3. A Abadia de São José de Claraval
Outro mosteiro francês que segue a
forma extraordinária é a Abadia de São José de Claraval. Situada na Região de
Borgonha-Franco-Condado, se trata de uma abadia autônoma de direito diocesano
ligada à Confederação Beneditina. Foi criada em 1972 e nunca teve vínculos
formais com a Fraternidade de São Pio X, embora tenha sido S. Ex.a Rev.ma
Marcel Lefebvre quem ordenou sacerdotes a vários monges. Em 2 de fevereiro de
1988 a abadia foi reconhecida oficialmente pelo bispo de Dijon.
A pedido do bispo, a Missa conventual
se oficia segundo a forma ordinária do rito romano, ainda que em latim, ad
orientem e sem concelebração. Isso permite que os monges possam celebrar sua
missa rezada, segundo a forma extraordinária se assim o desejam, como realmente
ocorre na maioria dos casos.
4. O Mosteiro de São Bento na França
Sua Excelência Reverendíssima
Dominique Rey, bispo de Fréjus-Toulon (França), erigiu em dezembro de 2011 o
Mosteiro de São Bento, que segue a forma extraordinária do rito romano. Suas
celebrações se realizam na igreja paroquial, localizada na Comuna La
Garde-Freinet, e são públicas.
5. Mosteiro de São Bento na Itália
Na Itália existe o Mosteiro de São
Bento, que se encontra na Núrsia, cidade natal do Santo fundador. A comunidade
está formada por jovens monges desejosos de viver a fidelidade da Regra
Beneditina e o espírito monástico tradicional. O Padre Cassian, que foi o
presidente do Pontifício Instituto Litúrgico, juntamente com outros jovens
norte-americanos iniciou seu caminho monástico em 1998 em um apartamento
alugado em Roma. No ano 2000, a petição do Arcebispo de Spoleto-Norcia, se
estabeleceram na Basílica de São Beto em Núrsia, que foi gravemente afetada
pelo terremoto de 2016. Já há alguns anos os monges se encontravam restaurando
um antigo convento capuchinho nos arredores de Núrsia, lugar que estará
destinado ao repouso e à contemplação, enquanto que o mosteiro da cidade estava
reservado para atender o culto da Basílica, hoje em processo de reconstrução.
6. Os Beneditinos da Imaculada
Os Beneditinos da Imaculada são uma
comunidade fundada em 2 de julho de 2008 por dois monges procedentes da Abadia de
Santa-Madalena de Barroux (França), que se instalaram em Villatalla, um pequeno
povo italiano situado em Liguria sobre as alturas de Impéria, muito próximo de
Ventimiglia e da fronteira francesa, a pedido de S. Ex.a Rev.ma
Mario Oliveri, então bispo de Albenga-Imperia. Em 21 de março de 2017, na festa
do Trânsito de São Bento, S. Ex.a Rev.ma Guglielmo
Borghetti, atual bispo de Albenga-Imperia, erigiu o monastério em instituto de
vida consagrada de direito diocesano. A comunidade celebra conforme os livros litúrgicos
vigentes em 1962.
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Fonte: Asociación Litúrgica Magníficat - Una Voce