segunda-feira, 12 de junho de 2017

O noivado de José e Maria



O NOIVADO DE JOSÉ E MARIA


José apareceu aos olhos de Maria como o homem providencial que a havia de permitir viver no estado de virgindade para o qual se sentia chamada pelo Senhor. Encontrando-o compreendeu que lhe era acessível este ideal e que podia desposar-se com ele.

Hoje admiramo-nos de que tendo tomado a resolução de permanecer Virgem, Maria se tenha decidido pelos desposórios e pelo casamento. Mas no ambiente em que vivia não conhecia outro caminho. Em Israel não existia a instituição da virgindade, não havia comunidades de virgens e o ideal de uma consagração virginal a Deus não era apreciado nem praticado. Este ideal começou, quando muito, a impor-se a um outro grupo de ascetas vivendo no deserto. Pensando no seu futuro, Maria teve de persuadir-se de que a melhor proteção da sua virgindade estava no casamento, contanto que pudesse encontrar um homem que estivesse animado do mesmo ideal, persuadido da excelência da castidade virginal e decidido a respeitá-la. Além disso, a Providência que queria assegurar um lar para o Menino Jesus impelia secretamente Maria neste sentido.

Contudo, a Virgem podia perguntar se encontraria um homem que aspirasse ou consentisse numa união virginal. Não seria, porventura, necessária uma alma excepcional? Grande foi a felicidade de Maria quando descobriu em José uma alma enamorada do mesmo ideal de pureza. Ficou admirada com a elevação dos seus sentimentos.

Por isso, o noivado foi o resultado espontâneo desta comunhão no mesmo ideal e, ao mesmo tempo, de uma profunda e recíproca estima.


Maria admirou igualmente, naquelas circunstâncias, a ação da divina Providência. Não devia ela cantar, no seu silêncio íntimo, o primeiro Magnificat? Com grande entusiasmo agradeceu ao Senhor por haver colocado no seu caminho um jovem destinado a ajudá-la a realizar a sua missão. José era um dom extraordinário da bondade divina.

Este primeiro Magnificat, como o que havia de cantar alguns meses depois, era um hino de gratidão proferido em nome de todos os humildes. Era um humilde, um desconhecido que Deus acabava de oferecer à Virgem como esposo. Enquanto o sonho clássico da jovem é ser esposa de um rei, Maria entusiasmava-se com a escolha divina preferindo os que não se distinguem pela grandeza exterior e vivem na sombra. A pessoa de José tinha, aos seus olhos, tanto maior estima quanto o seu valor era todo interior, escondido numa alma humilde. A grandeza de Deus revela-se nela imensamente mais.

Quando José escolheu Maria para esposa trocando com ela a promessa, não fez senão ratificar a escolha divina. Tinha sido escolhido entre muitos para ser esposo daquela que havia de ser a Mãe de Deus. Naquele momento podia intuir o infinito amor divino encerrado naquela escolha. Começava apenas a suspeitá-lo, a ter consciência do privilégio de possuir uma esposa tão perfeita. No íntimo da alma podia também ele elevar ao Senhor um hino de agradecimento semelhante ao Magnificat da Virgem.

Os desposórios, quer para José quer para Maria, começaram com um entusiasmo todo dirigido a Deus. Se Maria foi a primeira a apreciar as qualidades de José, precedendo a Igreja na sua veneração, José foi o primeiro a agradecer a Deus o dom imenso concedido ao mundo com a beleza espiritual de Maria. Ao ver como esta beleza iluminava a sua vida, dava graças a Deus.

O período dos desposórios não fez senão confirmá-lo na sua admiração. José sentia brotar em seu coração o verdadeiro culto pela noiva tão cheia da graça divina. No seu coração começava a formar-se o culto que a Igreja há de prestar à Virgem. Era um impulso em que se misturava, juntamente com o seu amor, a admiração por uma alma onde tudo era reflexo de Deus.

Serão precisos vários séculos para que a Igreja descubra novamente aquele que foi o noivo de Maria. Quando, porém, o descobrir, José tornar-se-á padroeiro dos desposórios cristãos.


O sentimento religioso cristão apreciará a alegria concedida a Maria por ter encontrado um noivo ideal. Ela pedirá a José que proporcione semelhante alegria às jovens que sentem grandes possibilidades de amor, esperando naquele que lhes permitirá exprimi-lo.

A escolha de um companheiro ou de uma companheira para a vida é tão difícil como importante. Quem não tem diante de si tristes exemplos de uniões infelizes e desgraçadas? A escolha de um noive ou de uma noiva tem uma influência decisiva para muitas vidas humanas. É com razão que se devem dirigir a José para que a escolha feita pelos homens coincida com a escolha feita por Deus. Não é ele o intercessor ideal para conseguir e concurso daquelas circunstâncias providenciais que hão de proporcionar-se e suscitar a união de duas pessoas feitas para viverem juntas?

Para que a escolha humana possa corresponder à escolha divina, José inspira-nos a preocupação de ter mais em conta as qualidades da alma do que as qualidades físicas, inspira-nos a preocupação da beleza espiritual, o encanto mais misterioso e mais sólido conferido pela presença da graça divina. Anima a aspiração de encontrar no outro o que ele mesmo buscava e encontrava na Virgem, a perfeição que aproxima de Deus.

Depois, feita a escolha, é ainda José o guia no progresso do amor no noivado. Este amor possui um perfume especial que só na pureza se pode conservar. José, que conservou sempre esta pureza, não desejando senão a união virginal, comunica o desejo de realizar este ideal durante o noivado. Ensina a gozar a intimidade de uma alma, a evitar tudo o que pode ofuscar ou diminuir a sua beleza espiritual. Estimula a delicadeza na manifestação dos sinais de afeito e fortifica a vontade no respeito sagrado para com a pessoa que se ama. Procura colocar o Senhor no centro deste amor.

Os seus desposórios com Maria são um modelo que o noivado cristão procura imitar. De acordo com a Virgem, José é aquele que nos ensina a amar. Guia os esposos por um caminho em que o amor não cessa de elevar-se com a maior nobreza de sentimentos. Aumenta imenso o impulso de amor, fazendo-nos entrever no amor humano o dom do amor divino. Faz considerar o amor como um chamamento à santidade.

Será para sempre o noivo por excelência, aquele que atingiu o cume do amor dos desposórios, guiando todos os noivos neste mesmo sentido e ao mesmo tempo ajudá-los-á a considerar Maria como noiva ideal.

Nos desposórios, José não é só o modelo dos noivos. Como o compromisso tomado com Maria importava ao mesmo tempo uma promessa de virgindade, o seu exemplo apresenta-nos um aspecto importante da consagração virginal. Aqueles que fazem ao Senhor o voto de castidade perfeita são por ele introduzidos numa intimidade especial com Nossa Senhora. José faz realizar-lhes o privilégio desta intimidade, a felicidade de possuir na vida a companhia de uma presença feminina capaz de suscitar toda a poesia do amor, mas unicamente destinada a elevar a alma para Deus. José, ensinado pela própria experiência faz saborear-lhes toda a beleza espiritual de Maria, e aumenta neles o desejo de uma pureza absoluta para poder participar do ideal de Maria.

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Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 12 de junho de 2017.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O encontro de José com a Maria



O ENCONTRO DE JOSÉ COM MARIA


Um encontro decidiu o destino de José! Foi um dia em que o seu olhar se cruzou com o de Maria.

Aparentemente era um encontro semelhante a tantos outros quando um jovem depara com uma moça que lhe agrada para ser sua esposa. José ficou intimamente deslumbrado, ficou encantado, seduzido. Um futuro de felicidade parecia abrir-se-lhe diante.

Na realidade foi um encontro como não tinha havido outro na terra. Na frescura primaveril do seu amor nascente, era diferente de qualquer outro. José ficara impressionado com a incomparável beleza duma alma que era a pureza e a perfeição inigualáveis.

"Salve, ó cheia de graça!" havia de em breve proclamar o anjo Gabriel. Ao contemplar a beleza da Virgem, o anjo havia de reconhecer nela a efusão maravilhosa da graça divina. José não podia descobrir esta graça com o olhar espiritual de um anjo, mas pressentia-a confusamente e experimentava o seu encanto admirável. Descobriu em Maria a existência de uma alma superior, de uma impressionante perfeição.

Muitos tinham passado por ela sem pararem nem descobrirem nela nada especial. A simples beleza corporal de Maria não era tão grande que atraísse os olhares. O jardim permanecia fechado e escapava ao mundo dos sentidos. O olhar ávido de beleza exterior deslizava por aquele rosto sem poder penetrar no íntimo. Para chegar à alma da Virgem era preciso um olhar profundo, liberto dos laços sensíveis.

José deve, pois, à sua grandeza de alma o fato de encontrar e descobrir Maria.

A profundidade do olhar de José não era só uma qualidade natural, era um dom sobrenatural. De há muito o Espírito Santo tinha preparado este encontro. Não só tinha dado a José a força especial para vencer as inclinações e reivindicações do instinto, mas tinha sintonizado a sua alma com a de Maria. Certamente José estava longe de possuir a perfeição de Nossa Senhora, mas uma graça superior tinha purificado aquele esplendor escondido. E o Espírito de amor tinha formado de modo especial o seu coração para que concordasse com o coração imaculado que se lhe oferecia.
Graças a esta harmonia preestabelecida, o encontro assinalou a fusão daquelas duas almas. No decurso dos séculos aqueles que encontrarem Maria ficarão admirados com a sua beleza, mas fá-lo-ão igualmente iluminados pelo Espírito Santo que tinha esclarecido e purificado o olhar de José. Só uma alma sobrenaturalmente orientada pode descobrir Nossa Senhora.

Naquele primeiro encontro o Espírito Santo estabeleceu um futuro que José então não podia discernir. Sem dúvida pressentiu em Maria a Divindade e notou que nunca se tinha aproximado tanto de Deus. Não podia, porém, saber até que ponto era verdadeiramente atraído pelo rosto de Deus através do rosto de Maria. Não podia ter consciência, naquele momento, de tudo o que sentia e apreciava confusamente naquele encontro.

Muitos anos depois, vivendo em companhia de Maria e de Jesus, ao verificar a profunda semelhança entre eles, descobrirá que tendo sido fascinado por Maria, o tinha sido na realidade pelo próprio Jesus. Maria escondia em si a imagem de Cristo. José, ao encontrá-la, encontrara primeiro a Cristo.

Assim como o Salvador, durante a sua vida pública, há de atrair aqueles que encontrara, ou até seduzir, era ele que misteriosamente atraía José e, através do rosto puro de Maria, se apoderava da sua alma.

José experimentou deste modo o que muitos depois dele hão de experimentar seduzidos pelo encanto de Maria. Cedia assim às seduções do amor divino que ela em si escondia.

Afeiçoava-se ao rosto de Jesus que já se delineava no da mãe. Na Virgem, sem o saber, procurava e encontrava o Salvador por vir.

No momento em que José reconheceu em Maria a mulher ideal, aceitou o convite que lhe era feito. A beleza espiritual de Maria encantou-o tanto que quis guardar esta presença sagrada. Só tinha um desejo: viver na intimidade desta alma única no mundo.

Se podemos comparar este encontro com o de Adão e Eva, antes do pecado que havia de ensombrar a humanidade e aviltar os outros encontros, devemos notar que a nova Eva, diferentemente da antiga, elevou o homem para o alto. A primeira Eva empregou a sua influência sobre Adão para o fazer seguir a inclinação da sua fraqueza. Maria, desde o primeiro momento do encontro, elevou José tornando-o superior a si mesmo.

Olhando para ela, José sentiu-se melhor. Impressionado com a perfeição e santidade desta alma, despertaram-se nele aspirações mais nobres.

Em particular, compreendeu que para viver em companhia de Maria devia manter-se na maior pureza e deu-se conta que para conservar a sua missão no nível mais elevado devia estabelecer-se na limpidez virginal. Podemos considerar que o encontro com Maria levou José a tomar a resolução da virgindade. Embora tivesse sido secretamente orientado nesse sentido pela graça, foi só na presença de Maria que compreendeu toda a beleza da vida virginal, sentindo todo o seu encanto e enlevo.

Não foi só uma questão de respeito perante o desejo e a vontade de Maria. José compreendeu que não podia verdadeiramente unir a sua vida à de Maria senão associando-se à sua virgindade. Era um ideal que devia compartilhar.


Foi o primeiro a quem Maria inspirou o encanto deste ideal. Em Maria a Virgindade não era simples salva guarda de si mesma, nem austera renúncia às inclinações sensíveis, era a chama de um grande amor, de um amor que devia ser espiritual para ser um amor mais puro. Era também um amor cheio de frescura, desconhecendo as perturbações da paixão. Descobrindo esta chama no olhar de Maria, José quis também vivê-la e compreendeu com quanta delicadeza devia conservar esta limpidez virginal. Depois dele muitos outros puderam testemunhar que a influência de Maria foi decisiva para eles na consecução deste ideal elevando a sua alma para o amor mais nobre.

Assim se reconhecia, da maneira mais evidente, que o fulcro central deste encontro era Deus. Deus era o traço de união. De fato, Maria só vivia para Deus e desejava manter a sua virgindade para se unir mais a ele. Não se podia penetrar na intimidade de Maria senão entrando na intimidade divina. Com toda a sua pessoa inspirava o encanto virginal de Deus. José foi, pois, impelido por esta dupla aspiração: elevar-se para Deus seguindo o caminho da virgindade.

Depois deste encontro como lhe pareceram mais pequenas as coisas deste mundo! A alma de Maria era tão grande.

Esta descoberta iluminará a existência de José. Maria tornou-o participante da grandeza e da pureza do seu amor.


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Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 07 de junho de 2017.

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