O
ENCONTRO DE JOSÉ COM MARIA
Um
encontro decidiu o destino de José! Foi um dia em que o seu olhar se cruzou com
o de Maria.
Aparentemente
era um encontro semelhante a tantos outros quando um jovem depara com uma moça
que lhe agrada para ser sua esposa. José ficou intimamente deslumbrado, ficou
encantado, seduzido. Um futuro de felicidade parecia abrir-se-lhe diante.
Na
realidade foi um encontro como não tinha havido outro na terra. Na frescura
primaveril do seu amor nascente, era diferente de qualquer outro. José ficara
impressionado com a incomparável beleza duma alma que era a pureza e a
perfeição inigualáveis.
"Salve, ó cheia de graça!" havia de
em breve proclamar o anjo Gabriel. Ao contemplar a beleza da Virgem, o anjo
havia de reconhecer nela a efusão maravilhosa da graça divina. José não podia
descobrir esta graça com o olhar espiritual de um anjo, mas pressentia-a
confusamente e experimentava o seu encanto admirável. Descobriu em Maria a
existência de uma alma superior, de uma impressionante perfeição.
Muitos
tinham passado por ela sem pararem nem descobrirem nela nada especial. A
simples beleza corporal de Maria não era tão grande que atraísse os olhares. O
jardim permanecia fechado e escapava ao mundo dos sentidos. O olhar ávido de
beleza exterior deslizava por aquele rosto sem poder penetrar no íntimo. Para
chegar à alma da Virgem era preciso um olhar profundo, liberto dos laços
sensíveis.
José
deve, pois, à sua grandeza de alma o fato de encontrar e descobrir Maria.
A
profundidade do olhar de José não era só uma qualidade natural, era um dom
sobrenatural. De há muito o Espírito Santo tinha preparado este encontro. Não
só tinha dado a José a força especial para vencer as inclinações e
reivindicações do instinto, mas tinha sintonizado a sua alma com a de Maria.
Certamente José estava longe de possuir a perfeição de Nossa Senhora, mas uma
graça superior tinha purificado aquele esplendor escondido. E o Espírito de
amor tinha formado de modo especial o seu coração para que concordasse com o
coração imaculado que se lhe oferecia.
Graças
a esta harmonia preestabelecida, o encontro assinalou a fusão daquelas duas
almas. No decurso dos séculos aqueles que encontrarem Maria ficarão admirados
com a sua beleza, mas fá-lo-ão igualmente iluminados pelo Espírito Santo que
tinha esclarecido e purificado o olhar de José. Só uma alma sobrenaturalmente
orientada pode descobrir Nossa Senhora.
Naquele
primeiro encontro o Espírito Santo estabeleceu um futuro que José então não
podia discernir. Sem dúvida pressentiu em Maria a Divindade e notou que nunca
se tinha aproximado tanto de Deus. Não podia, porém, saber até que ponto era
verdadeiramente atraído pelo rosto de Deus através do rosto de Maria. Não podia
ter consciência, naquele momento, de tudo o que sentia e apreciava confusamente
naquele encontro.
Muitos
anos depois, vivendo em companhia de Maria e de Jesus, ao verificar a profunda
semelhança entre eles, descobrirá que tendo sido fascinado por Maria, o tinha
sido na realidade pelo próprio Jesus. Maria escondia em si a imagem de Cristo.
José, ao encontrá-la, encontrara primeiro a Cristo.
Assim
como o Salvador, durante a sua vida pública, há de atrair aqueles que
encontrara, ou até seduzir, era ele que misteriosamente atraía José e, através
do rosto puro de Maria, se apoderava da sua alma.
José
experimentou deste modo o que muitos depois dele hão de experimentar seduzidos
pelo encanto de Maria. Cedia assim às seduções do amor divino que ela em si
escondia.
Afeiçoava-se
ao rosto de Jesus que já se delineava no da mãe. Na Virgem, sem o saber,
procurava e encontrava o Salvador por vir.
No
momento em que José reconheceu em Maria a mulher ideal, aceitou o convite que
lhe era feito. A beleza espiritual de Maria encantou-o tanto que quis guardar
esta presença sagrada. Só tinha um desejo: viver na intimidade desta alma única
no mundo.
Se
podemos comparar este encontro com o de Adão e Eva, antes do pecado que havia
de ensombrar a humanidade e aviltar os outros encontros, devemos notar que a
nova Eva, diferentemente da antiga, elevou o homem para o alto. A primeira Eva
empregou a sua influência sobre Adão para o fazer seguir a inclinação da sua
fraqueza. Maria, desde o primeiro momento do encontro, elevou José tornando-o
superior a si mesmo.
Olhando
para ela, José sentiu-se melhor. Impressionado com a perfeição e santidade
desta alma, despertaram-se nele aspirações mais nobres.
Em
particular, compreendeu que para viver em companhia de Maria devia manter-se na
maior pureza e deu-se conta que para conservar a sua missão no nível mais
elevado devia estabelecer-se na limpidez virginal. Podemos considerar que o
encontro com Maria levou José a tomar a resolução da virgindade. Embora tivesse
sido secretamente orientado nesse sentido pela graça, foi só na presença de
Maria que compreendeu toda a beleza da vida virginal, sentindo todo o seu
encanto e enlevo.
Não
foi só uma questão de respeito perante o desejo e a vontade de Maria. José
compreendeu que não podia verdadeiramente unir a sua vida à de Maria senão
associando-se à sua virgindade. Era um ideal que devia compartilhar.
Foi o
primeiro a quem Maria inspirou o encanto deste ideal. Em Maria a Virgindade não
era simples salva guarda de si mesma, nem austera renúncia às inclinações
sensíveis, era a chama de um grande amor, de um amor que devia ser espiritual
para ser um amor mais puro. Era também um amor cheio de frescura, desconhecendo
as perturbações da paixão. Descobrindo esta chama no olhar de Maria, José quis
também vivê-la e compreendeu com quanta delicadeza devia conservar esta
limpidez virginal. Depois dele muitos outros puderam testemunhar que a
influência de Maria foi decisiva para eles na consecução deste ideal elevando a
sua alma para o amor mais nobre.
Assim
se reconhecia, da maneira mais evidente, que o fulcro central deste encontro
era Deus. Deus era o traço de união. De fato, Maria só vivia para Deus e
desejava manter a sua virgindade para se unir mais a ele. Não se podia penetrar
na intimidade de Maria senão entrando na intimidade divina. Com toda a sua
pessoa inspirava o encanto virginal de Deus. José foi, pois, impelido por esta
dupla aspiração: elevar-se para Deus seguindo o caminho da virgindade.
Depois
deste encontro como lhe pareceram mais pequenas as coisas deste mundo! A alma
de Maria era tão grande.
Esta
descoberta iluminará a existência de José. Maria tornou-o participante da
grandeza e da pureza do seu amor.
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Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 07 de junho de 2017.
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