segunda-feira, 29 de maio de 2017

A personalidade de São José, esposo de Maria



A PERSONALIDADE DE SÃO JOSÉ

A devoção a São José nem sempre foi honrosa para ele. Muitas vezes se lhe atribuiu uma personalidade cansada, descolorida.

Quantas vezes foi apresentado como um velho! Um homem cheio de bondade e santidade que não podia deixar de inspirar simpatia, mas a quem se tirava o privilégio da juventude. A idade que se lhe dava parecia tão desproporcionada com a missão que devia desempenhar em Nazaré! Ao vê-lo tão carregado de anos, com uma barba que atestava o seu número, podia ser tomado como avô de Jesus e com relação a Maria teria idade mais de pai do que de esposo.

Não se reparava que apresentando-o assim não se honrava nem a Virgem nem o Menino. Pretendia-se constituí-lo mais um guardião ou um protetor de Maria do que um companheiro de vida, como se temesse que a sua juventude fosse um perigo para a pureza virginal de sua esposa. Era tirar a beleza e harmonia àquela missão, negando o amor que devia ser a origem dessa missão. Era também não querer dar um verdadeiro pai a Jesus, como se o filho não pudesse crescer e desenvolver-se senão em contato com a sabedoria dum velho.

Felizmente, produziu-se, em época recente, uma reação tendente a representar José sob um aspecto cada vez mais jovem. Embora o Evangelho não nos diga nada sobre a sua idade, devemos admitir que quando uniu a sua vida à de Maria deveria ter a idade em que os jovens geralmente se casam. Uniu a sua juventude à de Maria. Devemos, pois, representar José com os traços de um homem jovem. De resto ele não conheceu a velhice visto ter morrido antes de Jesus começar a sua vida pública.

José possuía sobretudo a juventude da alma: tem a personalidade de um jovem. É de fato, privilégio da juventude querer transformar o mundo com as novidades. Os jovens consideram o mundo como um campo onde desejam exercitar o seu ardor e desenvolver as suas possibilidades de ação, que lhes parecem ilimitadas, para o transformar e aperfeiçoar. Sonham criar de novo o mundo para o tornar melhor. E não fazem mal ter tal sonho, porque, pouco a pouco, graças a esta ação constante de uma juventude que se renovará, a humanidade continuará a sua ascensão.

Foi com esta mentalidade, própria de um jovem, que José encarou o mundo como lhe podia aparecer na sua aldeia de Nazaré. Tinha certamente consciência de que o ofício que exercia não lhe permitia influenciar, de modo palpável, a evolução da humanidade. Desejava, porém, com toda a alma, contribuir para a formação de um mundo melhor. No povo judaico esta ambição de jovem era mantida pela ardente esperança messiânica. De há muito os jovens esperavam impacientemente um Messias, um Salvador. Até então, esta esperança ainda não tinha sido satisfeita. Mas em cada geração não tomava ela novo impulso no coração dos jovens? José não cessou de aspirar a este regime ideal que havia de ser instaurado pelo Messias.

Ele acreditar, pois, na vinda de um mundo novo. E embora soubesse que a hora desta vinda dependia da vontade divina, estava decidido a contribuir com sua modesta parte para a preparação do reino messiânico. Contribuiria, de modo especial, para isso trabalhando por ser perfeitamente o que devia ser no posto assinalado pela Providência.

Com ardente confiança da sua juventude, esperava apressar, com uma vida que agradasse ao Senhor, a formação de um povo novo, mais santo.

José não devia só à juventude das suas forças físicas e do seu temperamento esta atitude de fervor. Vinha-lhe sobretudo da própria juventude de Deus, porque é Deus o Ser perenemente jovem que comunica ao homem a verdadeira juventude, sempre permanente e renovada. José abrira a sua alma à ação íntima do Senhor, pondo-se inteiramente à disposição da vontade divina. Por isso estava cheio daquela alegria com que Deus manifesta a sua presença. Deus comunicava à sua alma uma juventude mais real do que a do seu corpo. Infundia-lhe uma nova visão do mundo e entusiasmava-o pelo futuro melhor que ia preparando, o futuro preanunciado pelos profetas.

Tal devia ser o estado de alma de José quando encontrou Maria. Daí em diante, nunca perdeu esta juventude. De resto, os acontecimentos que estavam para influir na sua vida pessoal não lhe demonstrariam que tinha razão de esperar e de esperar por um mundo novo iminente? E não lhe indicariam que ele, José, por pequeno que fosse na imensidade do universo, poderia contribuir eficazmente para a preparação desta renovação? A sua ardente juventude sentiu-se animada. Se não conseguimos imaginar Maria sob os traços da velhice, pois parece-nos que permaneceu sempre jovem, o mesmo devemos pensar de José: a sua juventude, inspirada pela juventude divina, nunca desapareceu.

A vara florida ou a açucena (flor) postas na mão de José em muitos dos seus quadros ou estátuas não são menos características do que a sua barba de velho venerando. São um símbolo evidente: a vara florida recorda, segundo a lenda propagada pelos apócrifos, a escolha Divina que o designara para esposo da Virgem, o único entre muitos; açucena lembra a castidade admirável deste esposo virginal. Mas o gesto de segurar uma flor tão pouco condizente com um homem contribui para o constituir um ser convencional, ofuscando assim o vigor da sua personalidade. Com as suas mãos calejadas de trabalhador, José manejou outras que não eram flores.

A alma de José era certamente toda delicadeza. A sua juventude foi uma primavera não isenta de poesia. Teve uma vida saudável e o seu casamento demonstra-o claramente. Foi com grande frescura de sentimentos que se aproximou de Maria. Se foi escolhido por Deus para ser seu esposo, compreendemos que devia ser dotado de fina sensibilidade, capaz de compreender a fineza de ânimo de Maria, de apreciar o seu perfume e de concordar com ela.

Contudo, a sua personalidade não era semelhante a uma planta de ornato. Não tinha nada de artificial ou retórico. Não naufragava no sentimentalismo fácil. José foi um homem que conservou sempre o temperamento viril e teve uma alma particularmente forte. Precisou desta força para desempenhar a missão de chefe de família. A sua castidade foi a expressão desta força, a autêntica força espiritual que assegura o domínio da alma sobre o corpo sabendo impor-se uma disciplina de vida.

Pela força do seu caráter foi o amparo de Maria, como o deve ser o esposo para com a esposa. Com ela exerceu a sua autoridade de Pai e de educador sobre o Menino Jesus.

José possuía esta força notavelmente equilibrada. O que o Evangelho nos diz dele dá-nos a impressão de um homem que procede com grande sabedoria e tranquila segurança. Vivendo para o Senhor e servindo-o não tinha porventura consciência de receber dele a força necessária, sobretudo nas ocasiões mais difíceis? Isto preservava-o de ser impulsivo e inconsiderado, levando-o a proceder com calma e perseverante energia.

José devia aparecer jovem e forte, rico de uma personalidade cumulada de dons naturais e mais ainda de graça divina.

____

Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 29 de maio de 2017.

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado por visitar nosso Blog sobre a Fé Católica.

Deixe seu comentário e ajude-nos com seu feedback!

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | GreenGeeks Review