terça-feira, 30 de maio de 2017

Fundações Beneditinas Tradicionais



AS FUNDAÇÕES BENEDITINAS TRADICIONAIS

Nesta entrada oferecemos uma recordação das fundações beneditinas tradicionais que foram reconhecidas pela Santa Sé ou pelos ordinários do lugar.

1.      A Abadia Notre-Dame de Fontgombault

A Abadia Notre-Dame de Fontgombault foi fundada em Vale do Loire por Pedro da Estrela em 1091. Por distintas razões históricas deixou de ser um mosteiro beneditino, restabelecendo-se em 1948 o culto monástico. Desde seu restabelecimento tem preservado a tradição litúrgica gregoriana e, a partir de 1985, celebra exclusivamente de acordo com os livros litúrgicos anteriores à reforma pós-conciliar.



Esta abadia se tornou conhecida por ter acolhido entre 22 e 24 de julho de 2001 algumas Jornadas litúrgicas que contaram com a participação do então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, mais tarde elevado à Cátedra de Pedro com o nome de Bento XVI, quem deu interessantes conferências, uma delas a de clausura. Segundo disse nessa ocasião o abade Dom Antonine Forget, as Jornadas estavam destinadas a dar início a um novo Movimento Litúrgico, o que em parte se tornou realidade com a promulgação do Motu Proprio Summorum Pontificum em 2007.

Leia também: A personalidade de José, esposo de Maria

Na atualidade é a comunidade mais numerosa da Congregação de Solesmes, com mais de setenta monges, o que tem possibilitado a fundação de novos monastérios que também usam a forma extraordinária e pertencem a essa célebre abadia:

a)      A Abadia de Notre-Dame de Randol, fundada em 1971 na região de Auvernia (França), também adotou a liturgia tradicional em 1984.



b)      A Abadia de Notre-Dame de Triors, fundada em 1984 na região de Ródano-Alpes (França), adotou em 1988 a liturgia tradicional.



c)      A Abadia de Notre-Dame de Gaussan, fundada em 1994 na região de Languedoc-Rosellón (França), adotou desde sua criação o uso dos livros litúrgicos tradicionais. Em 2007, a Abadia foi transferida para a região de Mediodia-Pirineos (França). Hoje se chama Abadia de Notre-Dame de Donezan.



d)      A Abadia de Nossa Senhora da Anunciação de Clear Creek, fundada em 1999 em Oklahoma (EUA), adotou desde sua criação o rito romano tradicional.



e)      A Abadia de São Paulo de Wisques está situada na região de Alta França, onde os monges provenientes de Fontgombault chegaram em 2013 para dar um novo impulso a comunidade estabelecida ali desde 1889. Desde então a Abadia adotou a forma extraordinária.



No total, todos estes monastérios criados desde Fontgombault somam mais de duzentos monges que seguem a regra de São Bento. Um dado interessante é que todos estes monastérios não celebram exatamente com os livros litúrgicos vigentes em 1962 (como ocorre com quem se serve do direito concedido pelo Motu Proprio Summorum Pontificum), mas com o assim denominado Ordo de 1965. Eles mesmos explicam assim sua decisão de não existir estritamente a chamada forma extraordinária:

"[...] os monges das quatro abadias fundadas por Fontgombault não celebram com o missal chamado de São Pio V utilizado pelos sacerdotes 'tradicionalistas' e cuja última edição foi aprovada por São João XXIII em 1962. Na Missa conventual os beneditinos celebram segundo o Ordo Missae de 1965. Mesmo os liturgistas têm esquecido que o Papa Paulo VI publicou um novo Ordo naquele ano (o qual foi muito bem recebido por Mons. Lefebvre). Certamente as simplificações que apresentava eram mínimas quando comparado com a Missa puramente 'tridentina', mas elas merecem ser recordadas. Assim, o Ordo de 1965 retomava a antiga proclamação das intenções a serem rezadas antes do ofertório (orações universais), suprimiu uma parte das 'orações ao pé do altar', assim como o 'último Evangelho' (prólogo de São João), e previa que aquilo que era cantado pela schola ou a assembleia não fosse repetido em privado pelo celebrante. O Pater Noster era cantado por toda a assembleia juntamente com o celebrante, prática que se fazia há vários anos já nas paróquias e que se pode encontrar hoje mesmo em certos grupos 'inconformados' com a modalidade pura da 'forma extraordinária' do rito romano. Mas acima de tudo isso, o Ordo de 1965 restaurava o ritual da concelebração que havia sido abandonado no transcurso da Idade Média."


2. A Abadia de Santa-Madalena de Barroux


Outro grande monastério beneditino que segue a forma extraordinária é a Abadia de Santa-Madalena de Barroux, situada na região de Provença-Alpes-Costa Azul (França) e que conta atualmente com cerca de sessenta monges. Foi fundado por Dom Gérard Calvet em 1978, sendo em sua origem um mosteiro associado à Fraternidade Sacerdotal São Pio X criada por Sua Excelência Reverendíssima Marcel Lefebvre. Depois das sagrações episcopais, em 25 de julho de 1988 a abadia regularizou sua situação com a Santa Sé através da recém erigida Pontifícia Comissão Eclessia Dei. Dez anos depois, em 25 de setembro de 2008, a abadia se integrou a Confederação Beneditina e a Congregação do Subiaco. Em 24 de setembro de 1995 o Cardeal Joseph Ratzinger celebrou a Missa conventual com grande presença de fiéis.



A Abadia fundou um priorado e uma abadia de monjas beneditinas. Daqui procedem os monges que deram origem aos Beneditinos da Imaculada, hoje um instituto de vida consagrada de direito diocesano independente.

a)      O Priorado de Santa Maria da Guarda foi fundado em 2002 na região de Nova Aquitania (França).



b)      A Abadia da Anunciação de Barroux é uma comunidade feminina de monjas beneditinas, fundada em 1979 nos arredores do mosteiro de Santa-Madalena, que em 1989 regularizou sua situação com a Santa Sé.




3. A Abadia de São José de Claraval


Outro mosteiro francês que segue a forma extraordinária é a Abadia de São José de Claraval. Situada na Região de Borgonha-Franco-Condado, se trata de uma abadia autônoma de direito diocesano ligada à Confederação Beneditina. Foi criada em 1972 e nunca teve vínculos formais com a Fraternidade de São Pio X, embora tenha sido S. Ex.a Rev.ma Marcel Lefebvre quem ordenou sacerdotes a vários monges. Em 2 de fevereiro de 1988 a abadia foi reconhecida oficialmente pelo bispo de Dijon.



A pedido do bispo, a Missa conventual se oficia segundo a forma ordinária do rito romano, ainda que em latim, ad orientem e sem concelebração. Isso permite que os monges possam celebrar sua missa rezada, segundo a forma extraordinária se assim o desejam, como realmente ocorre na maioria dos casos.


4. O Mosteiro de São Bento na França


Sua Excelência Reverendíssima Dominique Rey, bispo de Fréjus-Toulon (França), erigiu em dezembro de 2011 o Mosteiro de São Bento, que segue a forma extraordinária do rito romano. Suas celebrações se realizam na igreja paroquial, localizada na Comuna La Garde-Freinet, e são públicas.




5. Mosteiro de São Bento na Itália


Na Itália existe o Mosteiro de São Bento, que se encontra na Núrsia, cidade natal do Santo fundador. A comunidade está formada por jovens monges desejosos de viver a fidelidade da Regra Beneditina e o espírito monástico tradicional. O Padre Cassian, que foi o presidente do Pontifício Instituto Litúrgico, juntamente com outros jovens norte-americanos iniciou seu caminho monástico em 1998 em um apartamento alugado em Roma. No ano 2000, a petição do Arcebispo de Spoleto-Norcia, se estabeleceram na Basílica de São Beto em Núrsia, que foi gravemente afetada pelo terremoto de 2016. Já há alguns anos os monges se encontravam restaurando um antigo convento capuchinho nos arredores de Núrsia, lugar que estará destinado ao repouso e à contemplação, enquanto que o mosteiro da cidade estava reservado para atender o culto da Basílica, hoje em processo de reconstrução.




6. Os Beneditinos da Imaculada


Os Beneditinos da Imaculada são uma comunidade fundada em 2 de julho de 2008 por dois monges procedentes da Abadia de Santa-Madalena de Barroux (França), que se instalaram em Villatalla, um pequeno povo italiano situado em Liguria sobre as alturas de Impéria, muito próximo de Ventimiglia e da fronteira francesa, a pedido de S. Ex.a Rev.ma Mario Oliveri, então bispo de Albenga-Imperia. Em 21 de março de 2017, na festa do Trânsito de São Bento, S. Ex.a Rev.ma Guglielmo Borghetti, atual bispo de Albenga-Imperia, erigiu o monastério em instituto de vida consagrada de direito diocesano. A comunidade celebra conforme os livros litúrgicos vigentes em 1962.



______
Siga-nos, assinando nosso Feed que se encontra na barra do lado direito.

________

Fonte: Asociación Litúrgica Magníficat - Una Voce

segunda-feira, 29 de maio de 2017

A personalidade de São José, esposo de Maria



A PERSONALIDADE DE SÃO JOSÉ

A devoção a São José nem sempre foi honrosa para ele. Muitas vezes se lhe atribuiu uma personalidade cansada, descolorida.

Quantas vezes foi apresentado como um velho! Um homem cheio de bondade e santidade que não podia deixar de inspirar simpatia, mas a quem se tirava o privilégio da juventude. A idade que se lhe dava parecia tão desproporcionada com a missão que devia desempenhar em Nazaré! Ao vê-lo tão carregado de anos, com uma barba que atestava o seu número, podia ser tomado como avô de Jesus e com relação a Maria teria idade mais de pai do que de esposo.

Não se reparava que apresentando-o assim não se honrava nem a Virgem nem o Menino. Pretendia-se constituí-lo mais um guardião ou um protetor de Maria do que um companheiro de vida, como se temesse que a sua juventude fosse um perigo para a pureza virginal de sua esposa. Era tirar a beleza e harmonia àquela missão, negando o amor que devia ser a origem dessa missão. Era também não querer dar um verdadeiro pai a Jesus, como se o filho não pudesse crescer e desenvolver-se senão em contato com a sabedoria dum velho.

Felizmente, produziu-se, em época recente, uma reação tendente a representar José sob um aspecto cada vez mais jovem. Embora o Evangelho não nos diga nada sobre a sua idade, devemos admitir que quando uniu a sua vida à de Maria deveria ter a idade em que os jovens geralmente se casam. Uniu a sua juventude à de Maria. Devemos, pois, representar José com os traços de um homem jovem. De resto ele não conheceu a velhice visto ter morrido antes de Jesus começar a sua vida pública.

José possuía sobretudo a juventude da alma: tem a personalidade de um jovem. É de fato, privilégio da juventude querer transformar o mundo com as novidades. Os jovens consideram o mundo como um campo onde desejam exercitar o seu ardor e desenvolver as suas possibilidades de ação, que lhes parecem ilimitadas, para o transformar e aperfeiçoar. Sonham criar de novo o mundo para o tornar melhor. E não fazem mal ter tal sonho, porque, pouco a pouco, graças a esta ação constante de uma juventude que se renovará, a humanidade continuará a sua ascensão.

Foi com esta mentalidade, própria de um jovem, que José encarou o mundo como lhe podia aparecer na sua aldeia de Nazaré. Tinha certamente consciência de que o ofício que exercia não lhe permitia influenciar, de modo palpável, a evolução da humanidade. Desejava, porém, com toda a alma, contribuir para a formação de um mundo melhor. No povo judaico esta ambição de jovem era mantida pela ardente esperança messiânica. De há muito os jovens esperavam impacientemente um Messias, um Salvador. Até então, esta esperança ainda não tinha sido satisfeita. Mas em cada geração não tomava ela novo impulso no coração dos jovens? José não cessou de aspirar a este regime ideal que havia de ser instaurado pelo Messias.

Ele acreditar, pois, na vinda de um mundo novo. E embora soubesse que a hora desta vinda dependia da vontade divina, estava decidido a contribuir com sua modesta parte para a preparação do reino messiânico. Contribuiria, de modo especial, para isso trabalhando por ser perfeitamente o que devia ser no posto assinalado pela Providência.

Com ardente confiança da sua juventude, esperava apressar, com uma vida que agradasse ao Senhor, a formação de um povo novo, mais santo.

José não devia só à juventude das suas forças físicas e do seu temperamento esta atitude de fervor. Vinha-lhe sobretudo da própria juventude de Deus, porque é Deus o Ser perenemente jovem que comunica ao homem a verdadeira juventude, sempre permanente e renovada. José abrira a sua alma à ação íntima do Senhor, pondo-se inteiramente à disposição da vontade divina. Por isso estava cheio daquela alegria com que Deus manifesta a sua presença. Deus comunicava à sua alma uma juventude mais real do que a do seu corpo. Infundia-lhe uma nova visão do mundo e entusiasmava-o pelo futuro melhor que ia preparando, o futuro preanunciado pelos profetas.

Tal devia ser o estado de alma de José quando encontrou Maria. Daí em diante, nunca perdeu esta juventude. De resto, os acontecimentos que estavam para influir na sua vida pessoal não lhe demonstrariam que tinha razão de esperar e de esperar por um mundo novo iminente? E não lhe indicariam que ele, José, por pequeno que fosse na imensidade do universo, poderia contribuir eficazmente para a preparação desta renovação? A sua ardente juventude sentiu-se animada. Se não conseguimos imaginar Maria sob os traços da velhice, pois parece-nos que permaneceu sempre jovem, o mesmo devemos pensar de José: a sua juventude, inspirada pela juventude divina, nunca desapareceu.

A vara florida ou a açucena (flor) postas na mão de José em muitos dos seus quadros ou estátuas não são menos características do que a sua barba de velho venerando. São um símbolo evidente: a vara florida recorda, segundo a lenda propagada pelos apócrifos, a escolha Divina que o designara para esposo da Virgem, o único entre muitos; açucena lembra a castidade admirável deste esposo virginal. Mas o gesto de segurar uma flor tão pouco condizente com um homem contribui para o constituir um ser convencional, ofuscando assim o vigor da sua personalidade. Com as suas mãos calejadas de trabalhador, José manejou outras que não eram flores.

A alma de José era certamente toda delicadeza. A sua juventude foi uma primavera não isenta de poesia. Teve uma vida saudável e o seu casamento demonstra-o claramente. Foi com grande frescura de sentimentos que se aproximou de Maria. Se foi escolhido por Deus para ser seu esposo, compreendemos que devia ser dotado de fina sensibilidade, capaz de compreender a fineza de ânimo de Maria, de apreciar o seu perfume e de concordar com ela.

Contudo, a sua personalidade não era semelhante a uma planta de ornato. Não tinha nada de artificial ou retórico. Não naufragava no sentimentalismo fácil. José foi um homem que conservou sempre o temperamento viril e teve uma alma particularmente forte. Precisou desta força para desempenhar a missão de chefe de família. A sua castidade foi a expressão desta força, a autêntica força espiritual que assegura o domínio da alma sobre o corpo sabendo impor-se uma disciplina de vida.

Pela força do seu caráter foi o amparo de Maria, como o deve ser o esposo para com a esposa. Com ela exerceu a sua autoridade de Pai e de educador sobre o Menino Jesus.

José possuía esta força notavelmente equilibrada. O que o Evangelho nos diz dele dá-nos a impressão de um homem que procede com grande sabedoria e tranquila segurança. Vivendo para o Senhor e servindo-o não tinha porventura consciência de receber dele a força necessária, sobretudo nas ocasiões mais difíceis? Isto preservava-o de ser impulsivo e inconsiderado, levando-o a proceder com calma e perseverante energia.

José devia aparecer jovem e forte, rico de uma personalidade cumulada de dons naturais e mais ainda de graça divina.

____

Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 29 de maio de 2017.

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | GreenGeeks Review