domingo, 20 de novembro de 2016

Dentro da Igreja não há salvação


INTRA ECCLESIAM NULLA SALUS
Dentro da Igreja não há salvação

Por Padre Leandro Bonnin


Recordo que um professor do Seminário em que me formei costumava usar o humor - um humor muito ácido, certamente - para fixar alguns ensinamentos.

Referindo-se ao diálogo ecumênico e inter-religioso, e de maneira mais geral a todas as formas de diálogo da Igreja Católica com outras visões de mundo, o professor nos alertava para um risco latente: o extremo do "captatio benevolentiae", de querer "ser agradável" ao outro, até quase chegar ao ponto do ridículo e inaceitável.

Em certas propostas - afirmava, no início do terceiro milénio - se enfatiza tanto a bondade das doutrinas e práticas "das outras" igrejas ", "das outras" religiões e "de outras" visões de mundo, e se acentuavam tanto os defeitos da Igreja Católica e de seus membros que o clássico adágio dos Padres "extra Ecclesiam nulla Salus" vinha a ser transformado em "intra ecclesiam nulla salus", isto é, "dentro da Igreja não há salvação". "Esse poderia ser o título de alguns tratados de eclesiologia atuais", completava.

O ensinamento do Magistério - contido no Catecismo - recorda-nos que a verdadeira grandeza e santidade da Igreja reside (além de em sua Cabeça) na plenitude dos meios de salvação (palavra, sacramento, ministério) da qual é portadora. Além disso, essa plenitude dos meios de salvação também se manifestou eficiente e eficaz na hora de "gerar" homens de grande valor, de amor ardente, coragem heroica, de lucidez incomum, de dedicação desconhecida em outras religiões e culturas.

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E como "a humildade é andar na verdade", permito-me dizer que uma igreja que já não se reconhece como SANTA (reitero, pela plenitude dos meios de salvação e santidade de alguns dos seus membros, a partir de sua Cabeça) não é uma Igreja humilde, mas mentirosa. Charlatona. Enganadora. É uma Igreja que duvida e abdica de sua identidade, de sua sacramentalidade salvífica e, por isso, priva o mundo dos tesouros que detém.

Sim, cai bem, soa simpático, dizer "que bom são os outro, que ruim somos nós". E sim, talvez, em outros tempos, pecamos porque insistimos demais dizer "que bom somos nós, que ruim são os outros".

Mas creio que é uma fonte de grande perda de prestígio e fruto apostólico insistir tenazmente em nossos lados obscuros, escondendo a luz brilhante que encontramos em sua [Igreja Católica] estrutura e história, enquanto engrandecemos os pontos luminosos dos outros, sem fazer qualquer referência aos seus erros.

Não é honesto e, portanto, não é nada humilde admitir todas as "lendas negras" da Igreja como se fossem realidade histórica objetiva. Porque deste modo, além de distanciarmo-nos da verdade, estaríamos canonizando a difamação e o juízo temerário, do qual estas lendas estão repletas. Esse erro procedimental - assumido, por vezes, de forma voluntária e estratégica, como uma "tática de humildade" - gera em muitos católicos um duplo sentimento de culpa e inferioridade.

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As calúnias descarregadas nos dois primeiros séculos contra os cristãos (recolhidas e refutadas por padres apologistas) parecem atualmente serem lançadas por alguns destes. No final, os católicos acabam sendo "inimigos da humanidade", os responsáveis ​​por todos os males da terra.

Esta culpa nauseante redunda, necessariamente, em um sentimento de inferioridade. Que os conduzem a observar, extasiados, "quantas riquezas fora da Igreja", ignorando que elas mesmas, quase em sua totalidade, estão presentes no próprio Corpo da Igreja, em seu passado ou presente.

Concluo reconhecendo que o caminho do diálogo não é fácil, nunca foi. Mas eu acho que não é um caminho verdadeiro a renúncia da verdade e da própria identidade, sob a justificativa de concórdia. É necessário refletir serenamente. Voltemos a reler os textos do Magistério, nos quais explica-nos como e em que sentido a expressão "Extra Ecclesiam Nulla Salus" permanece totalmente válida [1].

A Igreja é e continuará sendo o Corpo e a Esposa de Cristo. A Igreja Católica, em sua visibilidade concreta, em seus sinais sacramentais, continua sendo sinal e instrumento da união com Deus e dos homens entre si.

Afirmar "na Igreja Católica estão TODOS os meios de salvação", não somente não é falta de humildade, mas é a sua expressão. Porque cada um desses meios lhes foram dados. Eles não são méritos de seus membros, mas o presente da sua Cabeça e Fundador: Cristo. Negar-los é pecar de ingratos, e de cegos.

E os católicos - pastores e leigos - devem parar de pedir perdão por serem católicos. Devemos agradecer a Deus e ter orgulho de pertencer à verdadeira Igreja de Cristo. Como o ritual do batismo diz, pouco antes do rito essencial, "esta é a fé da Igreja, que orgulhosamente professamos". Assim, podemos dizer, sem medo de vaidade ou presunção: "Esta é a Esposa do Cordeiro, a qual temos orgulho de pertencer". Fora da qual não há salvação.

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[1] - "O Sagrado Concílio [...] ensina que esta Igreja, peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação. Com efeito, só Cristo é mediador e caminho de salvação e Ele torna-Se-nos presente no Seu corpo, que é a Igreja; ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do Baptismo, confirmou simultaneamente a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram pela porta do Baptismo. Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar." (Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 14, citado pelo Catecismo da Igreja Católica, n. 846). Confira também a Declaração Dominus Iesus, do ano 2000.

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Fonte: Infocatolica (tradução nossa)

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