sábado, 9 de abril de 2016

Extratos da Exortação Amoris Laetitia - Sobre o amor na Família (Parte 01)


Extratos

Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia do Santo Padre Francisco - Sobre o amor na Família


"A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja." Assim começa a exortação, com palavras que animam o espírito do que lê e consola as famílias aflitas. É o amor, a alegria do amor, que aquece os corações dos membros familiares, por isso a Igreja exulta de alegria.

Capítulo I - A família à luz da Palavra

O Santo Padre começa falando sobre as características da família, de seus membros e da relação entre eles. Utilizando a palavra “surpreendentemente” ele constata que Deus explica que o casal “homem e mulher” é “imagem e semelhança de Deus”, querendo talvez que percebamos qual grave é esta solene palavra do Senhor. A imagem de Deus!
Antes de explicar em que consiste essa semelhança recorda-nos que isto não significa que “o próprio Deus é sexuado ou tem a seu lado uma companheira divina, como acreditavam algumas religiões antigas”. Isso não é verdade, por isso sabemos que com “clareza a Bíblia rejeitou como idolátricas tais crenças”.

Contrariando os falsos deuses, aqueles que têm boca e não falam, têm olhos e não veem, têm ouvidos e não ouvem, têm nariz e não cheiram, têm mãos e não tocam, têm pés e não andam, e sua garganta não tem voz, o Papa explica que o casal será “imagem e semelhança de Deus” quando traz consigo a fecundidade da vida que só um Deus vivo pode dar e quando a união do homem e da mulher é realizada pelo elo maior, que é o amor.
O casal que ama e gera a vida é a verdadeira «escultura» viva (não a de pedra ou de ouro, que o Decálogo proíbe), capaz de manifestar Deus criador e salvador. (...) O Deus Trindade é comunhão de amor; e a família, o seu reflexo vivente. (Exortação Amoris Laetitia, n. 11)
Mas este facto é devido somente a um preceito divino ou teria suas razões naturais? Esta união, nos lembra o Santo Padre, provém da “inquietação vivida pelo homem, que busca "uma auxiliar semelhante" que seja capaz de resolver a “solidão que o perturba”. E, diz ele, deste “encontro que cura a solidão surge a geração e a família”.

Não haveria de faltar uma palavra sobre os filhos, já que são eles o resultado concreto desta “imagem e semelhança”. “Se os pais são como que os alicerces da casa, os filhos constituem as « pedras vivas » da família, nos diz o Papa, esclarecendo, no entanto que, “os filhos não são uma propriedade da família, mas espera-os o seu caminho pessoal de vida”, isto é, cada qual crescerá e terá seu destino, sua missão na terra, seja constituindo uma nova família aos moldes do plano de Deus ou doando sua vida ao serviço integral de Deus, no sacerdócio ou na vida consagrada.
"Os frutos do amor são também a misericórdia e o perdão." (Exortação Amoris Laetitia, n. 27)
A família é, portanto, uma comunhão de pessoas que se amam mutuamente e na qual todos amam a Deus e, neste sentido, constitui a igreja doméstica, como o local da catequese dos filhos.
Entretanto, a experiência familiar não é vivida somente nas alegrias, mas esta história contempla o momento de dor e de dificuldades. O Papa recorda-nos uma série de acontecimentos familiares relatados na Bíblia a fim de demonstrar que as dificuldades familiares não são situações oriundas do nosso tempo.

A partir dessa série de relatos conclui que a “Palavra de Deus não se apresenta como uma sequência de teses abstratas, mas como uma companheira de viagem”, o que para nós poderia refletir na conscientização da importância da pastoral na Igreja.
Por fim, conclui com duas ideias.
A primeira a respeito da importância do trabalho para o bem-estar físico e a serenidade da família, pois de fato o trabalho é considerado como “parte fundamental da dignidade humana”. A ausência do trabalho gera sofrimento, afetando de várias formas, a serenidade da família.
Encaminhando-se para o final do capítulo, enfatiza que a “família é chamada a compartilhar a oração diária, a leitura da Palavra de Deus e a comunhão eucarística, para fazer crescer o amor e tornar-se cada vez mais um templo onde habita o Espírito”.

Capítulo II - A realidade e os desafios das famílias

Este segundo capítulo traz à mente do leitor os diversos problemas enfrentados pela instituição familiar nestes tempos.
Antes de falar sobre os desafios, o Papa coloca uma premissa importante: “o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja”. Isso nos convence da verdadeira necessidade da exortação.

Leia também: Papa Francisco condena união gay

As palavras são bastante claras e ricas em reflexão nos mais variados assuntos, por isso trarei aqui, neste capítulo e nos que se seguem, apenas apontamentos (extratos), reservando os meus comentários apenas nos pontos onde eu achar necessário, a fim de evitar que o texto fique demasiado longo já que as realidades citadas são em número bastante considerável.

a) A liberdade
(...) é fácil confundir a liberdade genuína com a ideia de que cada um julga como lhe parece, como se, para além dos indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam, como se tudo fosse igual e tudo se devesse permitir.  Neste contexto, o ideal matrimonial com um compromisso de exclusividade e estabilidade acaba por ser destruído pelas conveniências contingentes ou pelos caprichos da sensibilidade. (Exortação Amoris Laetitia, n.34)

b) Respeito humano pelo mundo
Como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimônio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano; estaríamos a privar o mundo dos valores que podemos e devemos oferecer. (Exortação Amoris Laetitia, n.35)

c) A pastoral negativa e a positiva
O Santo Padre quer estimular uma pastoral positiva, ou seja, aquela em que se busca destacar os pontos positivos a fim de guiar alguém pelo caminho correto, em detrimento de uma pastoral negativa que tenta simplesmente convencer as pessoas através de questões doutrinais. Para tornar mais clara a ideia tomemos um exemplo. Suponhamos que queiramos afastar alguém do caminho do pecado do sexo desregrado e para tal tenhamos duas formas; a primeira consiste em evidenciar a beleza e a alegria de se guardar a castidade e a segunda demonstrar, através da Bíblia e do Catecismo, que quem pratica sexo fora do casamento comete pecado mortal e pode, se não se arrepender, ir para o inferno. Pois bem, a primeira opção é o que poder-se-ia chamar de pastoral positiva, enquanto que a segunda pastoral negativa.
Por vezes pensamos que com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura à graça, já apoiávamos suficientemente as famílias, consolidávamos o vínculo dos esposos e enchíamos de sentido as suas vidas compartilhadas. (Exortação Amoris Laetitia, n. 37)
É necessário que apresentemos o matrimônio “ mais como um caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira”, do que simples e unilateralmente, pelo “seu fim unitivo”, de tal forma que o “convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua ficaram ofuscados por uma ênfase quase exclusiva no dever da procriação.”
Isto não significa deixar de advertir a decadência cultural que não promove o amor e a doação. (Exortação Amoris Laetitia, n. 39)

d) Cultura do provisório
(...) a rapidez com que as pessoas passam duma relação afetiva para outra. Creem que o amor, como acontece nas redes sociais, se possa conectar ou desconectar ao gosto do consumidor e inclusive bloquear rapidamente. (Exortação Amoris Laetitia, n. 39)
Precisamos de encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio de matrimônio. (Exortação Amoris Laetitia, n. 40)

e) Controle de natalidade
A própria queda demográfica, causada por uma mentalidade anti-natalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva, não só determina uma situação em que a sucessão das gerações deixa de estar garantida, mas corre-se o risco de levar, com o tempo, a um empobrecimento econômico e a uma perda de esperança no futuro. O avanço das biotecnologias também teve um forte impacto sobre a natalidade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 42)
O Papa ainda cita como fatores que colaboraram para uma mentalidade anti-natalista a “industrialização, a revolução sexual, o temor da superpopulação, os problemas económicos (...). A sociedade de consumo também pode dissuadir as pessoas de ter filhos, só para manter a sua liberdade e estilo de vida.”
(...) a Igreja rejeita com todas as suas forças as intervenções coercitivas do Estado a favor da contracepção, da esterilização e até mesmo do aborto ». Estas medidas são inaceitáveis mesmo em áreas com alta taxa de natalidade (...)" (Exortação Amoris Laetitia, n. 42)
f) Deus nas famílias
(...) uma das maiores pobrezas da cultura atual é a solidão, fruto da ausência de Deus na vida das pessoas e da fragilidade das relações. Há também uma sensação geral de impotência face à realidade socioeconômica que, muitas vezes, acaba por esmagar as famílias (...) (Exortação Amoris Laetitia, n. 43)

g) Moradia
A falta duma habitação digna ou adequada leva muitas vezes a adiar a formalização duma relação. Uma família e uma casa são duas realidades que se reclamam mutuamente. (...) devemos insistir nos direitos da família, e não apenas nos direitos individuais. A família é um bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa de ser protegida. A defesa destes direitos é « um apelo profético a favor da instituição familiar, que deve ser respeitada e defendida contra toda a agressão», sobretudo no contexto atual em que habitualmente ocupa pouco espaço nos projetos políticos. (Exortação Amoris Laetitia, n. 44)

h) Órfãos de pais vivos
Há muitos filhos nascidos fora do matrimônio, especialmente nalguns países, e muitos são os que, em seguida, crescem com um só dos progenitores e num contexto familiar alargado ou reconstituído. (Exortação Amoris Laetitia, n. 45)

i) Exploração sexual
(...) a exploração sexual da infância constitui uma das realidades mais escandalosas e perversas da sociedade atual. (Exortação Amoris Laetitia, n. 45)

j) Perseguição dos cristãos
As perseguições dos cristãos, bem como as de minorias étnicas e religiosas, em várias partes do mundo, especialmente no Médio Oriente...Devem ser apoiados todos os esforços para favorecer a permanência das famílias e das comunidades cristãs nas suas terras de origem ». (Exortação Amoris Laetitia, n. 46)

l) As pessoas com deficiência e os idosos
Merecem grande admiração as famílias que aceitam, com amor, a prova difícil dum filho deficiente. Dão à Igreja e à sociedade um valioso testemunho de fidelidade ao dom da vida. (...) A família que aceita, com os olhos da fé, a presença de pessoas com deficiência poderá reconhecer e garantir a qualidade e o valor de cada vida, com as suas necessidades, os seus direitos e as suas oportunidades. (Exortação Amoris Laetitia, n. 47)
Nas sociedades altamente industrializadas, onde o seu número tende a aumentar enquanto diminui a taxa de natalidade, os idosos correm o risco de ser vistos como um peso. Muitas famílias ensinam-nos que é possível enfrentar os últimos anos da vida, valorizando o sentido de realização e integração de toda a existência no mistério pascal. (Exortação Amoris Laetitia, n. 48)
A eutanásia e o suicídio assistido são graves ameaças para as famílias, em todo o mundo. A sua prática é legal em muitos Estados. A Igreja, ao mesmo tempo que se opõe firmemente a tais práticas, sente o dever de ajudar as famílias que cuidam dos seus membros idosos e doentes. (Exortação Amoris Laetitia, n. 48)
m) Educação dos filhos
(...) acaba dificultada porque, entre outras causas, os pais chegam a casa cansados e sem vontade de conversar; em muitas famílias, já não há sequer o hábito de comerem juntos, e cresce uma grande variedade de ofertas de distração, para além da dependência da televisão. Isto torna difícil a transmissão da fé de pais para filhos. (...) as famílias habitualmente padecem duma enorme ansiedade; parece haver mais preocupação por prevenir problemas futuros do que por compartilhar o presente. Isto, que é uma questão cultural, vê-se agravado por um futuro profissional incerto, pela insegurança econômica ou pelo medo quanto ao futuro dos filhos. (Exortação Amoris Laetitia, n. 50)

n) Toxicodependência
(...) um dos flagelos do nosso tempo que faz sofrer muitas famílias e, não raro, acaba por destruí-las. Algo semelhante acontece com o alcoolismo, os jogos de azar e outras dependências. (Exortação Amoris Laetitia, n. 51)

o) Uniões de fato e homossexuais
(...) as uniões de facto ou entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, não podem ser simplesmente equiparadas ao matrimônio. Nenhuma união precária ou fechada à transmissão da vida garante o futuro da sociedade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 52)
Já não se adverte claramente que só a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher realiza uma função social plena, por ser um compromisso estável e tornar possível a fecundidade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 52)

p) Poligamia e matrimônios combinados
Nalgumas sociedades, vigora ainda a prática da poligamia; noutros contextos, permanece a prática dos matrimônios combinados. (...) Em muitos contextos, e não apenas ocidentais, está a difundir-se largamente a prática da convivência que precede o matrimônio e também a prática de convivências não orientadas para assumir a forma dum vínculo institucional ». Em vários países, a legislação facilita o avanço de várias alternativas, de modo que um matrimônio com as características de exclusividade, indissolubilidade e abertura à vida acaba por aparecer como mais uma proposta antiquada entre muitas outras. (Exortação Amoris Laetitia, n. 53)
Avança, em muitos países, uma desconstrução jurídica da família, que tende a adotar formas baseadas quase exclusivamente no paradigma da autonomia da vontade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 53)

q) Violência contra a mulher
Neste relance sobre a realidade, desejo salientar que, apesar das melhorias notáveis registadas no reconhecimento dos direitos da mulher e na sua participação no espaço público, ainda há muito que avançar nalguns países. Não se acabou ainda de erradicar costumes inaceitáveis; destaco a violência vergonhosa que, às vezes, se exerce sobre as mulheres, os maus-tratos familiares e várias formas de escravidão, que não constituem um sinal de força masculina, mas uma covarde degradação. A violência verbal, física e sexual, perpetrada contra as mulheres nalguns casais, contradiz a própria natureza da união conjugal. (Exortação Amoris Laetitia, n. 54)

r) Ideologia de Gênero
Outro desafio surge de várias formas duma ideologia genericamente chamada gender, que « nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferenças de sexo, e esvazia a base antropológica da família. Esta ideologia leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher. (Exortação Amoris Laetitia, n. 56)É preciso não esquecer que « sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender) podem-se distinguir, mas não separar». (Exortação Amoris Laetitia, n. 56)
Não caiamos no pecado de pretender substituir-nos ao Criador. Somos criaturas, não somos omnipotentes. A criação precede-nos e deve ser recebida como um dom. Ao mesmo tempo somos chamados a guardar a nossa humanidade, e isto significa, antes de tudo, aceitá-la e respeitá-la como ela foi criada. (Exortação Amoris Laetitia, n. 56)

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Continua na Parte 02 - Leia aqui

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