O problema dos ritos romanos no rito romano
O presente
artigo trata-se da tradução de uma conferência feita pelo então teólogo Cardeal Joseph Ratzinger na Abadia de Notre-Dame de Fontgombault, no ano de 2001.
O fato desta
coexistência é evidente, como mostrou muito bem, e de maneira muito
convincente, o padre Folsom e também o professor Spaemann. O padre Folsom
enunciou de forma clara duas consequências: não há razões litúrgicas contra
esta pluralidade, mas existe o problema dos critérios canônicos e - como ele
disse - políticos; diria melhor, pastorais. E aqui está realmente o problema
para a autoridade da Igreja: quais são os critérios?
Santa Missa celebrada segundo o Missal de 1962 (hoje, forma extraordinária) |
Ao observar os
desenvolvimentos da aplicação do novo Missal, encontrei em seguida uma segunda
razão, a qual também o professor Spaemann também se referiu: o antigo Missal é
o ponto de referência, um critério; um semáforo, disse. Isto parece-me muito
importante para todos: este Missal da Igreja dá, por sua presença - sinal de
identidade fundamental dos dois Missais, inclusive sendo expressões rituais
diferentes -, um critério de referência e se converte em um refúgio para os fiéis
que já não encontram em sua paróquia uma liturgia celebrada realmente segundo
os textos autorizados da Igreja. Por um lado, não tendo dúvida de que um rito
venerável, como o rito romano que esteve em vigor até 69, é um rito da Igreja,
um bem da Igreja, um tesouro da Igreja, é necessário conservá-lo na Igreja.
Por outro lado, segue
existindo um problema: como regulamentar o uso dos dois ritos? Parece-me claro
que o Missal de Paulo VI é, por direito, o Missal em vigor e que seu uso é
normal. Deve-se estudar a maneira de permitir e conservar para a Igreja o
tesouro do antigo Missal. Tenho falado frequentemente no mesmo sentido que
nosso amigo Spaemann: se existia o rito dos dominicanos, se existia - e,
todavia, existe - o rito milanês, por que não também o rito - digamos -
"de São Pio V"? Mas há um problema muito real: se a eclesialidade
passa a ser uma questão de livre escolha, se na Igreja há igrejas rituais
selecionadas segundo um critério subjetivo, isto cria um problema. A Igreja,
está construída sobre os bispos segundo a sucessão dos apóstolos, na forma de
Igrejas locais, portanto, com um critério objetivo. Estou nesta Igreja local e
não busco meus amigos, eu encontro meus irmãos e minhas irmãs; e os irmãos e
irmãs não se busca, os encontra. Esta situação de não arbitrariedade da Igreja
na qual me encontro, que não é um Igreja de minha escolha, mas a Igreja que se
apresenta-me, é um princípio muito importante. Parece-me que as cartas de Santo
Inácio vão fortemente nesta linha de que este bispo é a Igreja; não é minha
escolha, como se fosse com esse grupo de amigos ou com outro; estou na Igreja
comum, com os pobres, com os ricos, com as pessoas simpáticas e antipáticas,
com os inteligentes e os estúpidos; estou na Igreja que me precede. Abrir a
possibilidade de eleger uma Igreja ao modo de se escolher uma carta poderia
realmente ferir a estrutura da Igreja.
Portanto, deve-se
buscar - parece-me - um critério que não seja subjetivo, para abrir a
possibilidade do antigo Missal. Isto me parece muito simples se se trata de
abadias: é uma coisa boa; corresponde também com a tradição segundo a qual
havia ordens com um rito especial, por exemplo os dominicanos. Portanto, as
abadias que garantem a presença deste rito ou também comunidades como os
dominicanos de São Vicente Ferrer ou outras comunidades religiosas ou também
fraternidades: este me parece um critério objetivo. Naturalmente, o problema se
complica com as fraternidades, que não são ordens religiosas, mas comunidades
de sacerdotes não diocesanos que, no entanto, celebram nas paróquias. Talvez, a
paróquia pessoal seja uma solução, mas não deixa, tampouco, de dar problemas.
Neste caso, a Santa Sé deve abrir a todos os fiéis esta possibilidade e
conservar este tesouro, mas deve também conservar e respeitar a estrutura
episcopal da Igreja.
A conferência continua falando sobre a reforma da reforma e o futuro do Missal de São Pio V
Clique para ler: Reforma da Reforma e o futuro do Missal de São Pio V
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Se você não leu o início da conferência.
Parte 01: Revelação de Bento XVI sobre o Movimento Litúrgico
Não perca!
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Para citar: RATZINGER, Joseph Aloisius. Obras completas: Teologia da liturgia. Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 2012. 561 p. ISBN: 978-84-220-1609-0. Publicado no blog Regozija-te com a verdade, aos 16 de maio de 2016. Tradução de Gabriel Luan Paixão Mota.
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