segunda-feira, 16 de maio de 2016

O problema dos ritos romanos no rito romano


O problema dos ritos romanos no rito romano

O presente artigo trata-se da tradução de uma conferência feita pelo então teólogo Cardeal Joseph Ratzinger na Abadia de Notre-Dame de Fontgombault, no ano de 2001.


O fato desta coexistência é evidente, como mostrou muito bem, e de maneira muito convincente, o padre Folsom e também o professor Spaemann. O padre Folsom enunciou de forma clara duas consequências: não há razões litúrgicas contra esta pluralidade, mas existe o problema dos critérios canônicos e - como ele disse - políticos; diria melhor, pastorais. E aqui está realmente o problema para a autoridade da Igreja: quais são os critérios?

Santa Missa celebrada segundo o Missal de 1962 (hoje, forma extraordinária)
Pessoalmente, estive desde o começo a favor da liberdade de seguir usando o antigo Missal, por um motivo muito simples; estava começando já então a se falar de uma ruptura com a Igreja pré-conciliar, e da formação de modelos diferentes de Igrejas: uma Igreja pré-conciliar obsoleta e uma Igreja nova, conciliar. Atualmente o lema dos lefebristas consiste em afirmar que existem duas Igrejas, cuja grande diferença é visível para eles na existência de dois Missais, que estão em desacordo entre si. Parece-me essencial e fundamental reconhecer que os dois Missais são Missais da Igreja, e da Igreja que segue sendo a mesma. O prefácio do Missal de Paulo VI disse explicitamente que é um Missal da mesma Igreja, e se insere em sua continuidade. E para sublinhar que não existe ruptura essencial, que existem tanto a continuidade como a identidade da Igreja, me parece indispensável manter a possibilidade de celebrar segundo o antigo Missal como sinal de identidade permanente da Igreja. Esta é, para mim, a razão fundamental: o que até 1969 era a liturgia da Igreja, o mais sagrado para todos nós, não pode converter-se depois, com um positivismo incrível, no mais inaceitável. Se queremos ser críveis, inclusive com este lema da modernidade, é absolutamente necessário reconhecer que o que era fundamental antes de 69, segue sendo também depois: é uma mesma sacralidade, uma mesma liturgia.
Ao observar os desenvolvimentos da aplicação do novo Missal, encontrei em seguida uma segunda razão, a qual também o professor Spaemann também se referiu: o antigo Missal é o ponto de referência, um critério; um semáforo, disse. Isto parece-me muito importante para todos: este Missal da Igreja dá, por sua presença - sinal de identidade fundamental dos dois Missais, inclusive sendo expressões rituais diferentes -, um critério de referência e se converte em um refúgio para os fiéis que já não encontram em sua paróquia uma liturgia celebrada realmente segundo os textos autorizados da Igreja. Por um lado, não tendo dúvida de que um rito venerável, como o rito romano que esteve em vigor até 69, é um rito da Igreja, um bem da Igreja, um tesouro da Igreja, é necessário conservá-lo na Igreja.

Por outro lado, segue existindo um problema: como regulamentar o uso dos dois ritos? Parece-me claro que o Missal de Paulo VI é, por direito, o Missal em vigor e que seu uso é normal. Deve-se estudar a maneira de permitir e conservar para a Igreja o tesouro do antigo Missal. Tenho falado frequentemente no mesmo sentido que nosso amigo Spaemann: se existia o rito dos dominicanos, se existia - e, todavia, existe - o rito milanês, por que não também o rito - digamos - "de São Pio V"? Mas há um problema muito real: se a eclesialidade passa a ser uma questão de livre escolha, se na Igreja há igrejas rituais selecionadas segundo um critério subjetivo, isto cria um problema. A Igreja, está construída sobre os bispos segundo a sucessão dos apóstolos, na forma de Igrejas locais, portanto, com um critério objetivo. Estou nesta Igreja local e não busco meus amigos, eu encontro meus irmãos e minhas irmãs; e os irmãos e irmãs não se busca, os encontra. Esta situação de não arbitrariedade da Igreja na qual me encontro, que não é um Igreja de minha escolha, mas a Igreja que se apresenta-me, é um princípio muito importante. Parece-me que as cartas de Santo Inácio vão fortemente nesta linha de que este bispo é a Igreja; não é minha escolha, como se fosse com esse grupo de amigos ou com outro; estou na Igreja comum, com os pobres, com os ricos, com as pessoas simpáticas e antipáticas, com os inteligentes e os estúpidos; estou na Igreja que me precede. Abrir a possibilidade de eleger uma Igreja ao modo de se escolher uma carta poderia realmente ferir a estrutura da Igreja.
Portanto, deve-se buscar - parece-me - um critério que não seja subjetivo, para abrir a possibilidade do antigo Missal. Isto me parece muito simples se se trata de abadias: é uma coisa boa; corresponde também com a tradição segundo a qual havia ordens com um rito especial, por exemplo os dominicanos. Portanto, as abadias que garantem a presença deste rito ou também comunidades como os dominicanos de São Vicente Ferrer ou outras comunidades religiosas ou também fraternidades: este me parece um critério objetivo. Naturalmente, o problema se complica com as fraternidades, que não são ordens religiosas, mas comunidades de sacerdotes não diocesanos que, no entanto, celebram nas paróquias. Talvez, a paróquia pessoal seja uma solução, mas não deixa, tampouco, de dar problemas. Neste caso, a Santa Sé deve abrir a todos os fiéis esta possibilidade e conservar este tesouro, mas deve também conservar e respeitar a estrutura episcopal da Igreja.



A conferência continua falando sobre a reforma da reforma e o futuro do Missal de São Pio V
Clique para ler: Reforma da Reforma e o futuro do Missal de São Pio V


Se você não leu o início da conferência.
Parte 01: Revelação de Bento XVI sobre o Movimento Litúrgico

Não perca!
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Para citar: RATZINGER, Joseph AloisiusObras completas: Teologia da liturgia. Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 2012. 561 p. ISBN: 978-84-220-1609-0. Publicado no blog Regozija-te com a verdade, aos 16 de maio de 2016. Tradução de Gabriel Luan Paixão Mota.

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