sábado, 28 de junho de 2014

Sobre a veneração e intercessão dos santos, e imagens sagradas

Muitos protestantes contestam a veneração e intercessão dos santos e o uso de imagens sacras. 

AMDG. Primeiramente, é importante lembrar: Deus nos convida à santidade. E, se nos convida, certamente não é algo impossível. A vontade dEle é a nossa santificação (cf. 1Ts. 4,3; Ef. 1,4), e com a Sua graça podemos consegui-la. São Zacarias também afirma isso, no Benedictus (Lc. 1,75), e há muitíssimas passagens que sustentam isso. Vale ressaltar, também, que, quando a Igreja diz que devemos ser santos, Ela não quer dizer sem pecado, mas sim que devemos ser alguém que serve verdadeiramente a Deus, que pratica heroicamente as virtudes (claro, com a graça de Deus, pois nada podemos fazer sem Ele). Ser santo é ser alguém que pode dizer, como São Paulo, para os outros o imitarem, pois é imitador de Cristo (cf. 1Cor. 5,16). É poder afirmar: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.” (Gl. 2,20). Não é quem não cai, mas aquele que nunca desiste de se levantar. E, claro, o Santo por excelência é somente Deus.


Agora, quanto à intercessão. Uma passagem muito usada para contestá-la é Eclesiastes 9,5-6. Acontece que afirmou Jesus: “Aquele que crê em Mim viverá, ainda que morra, e quem vive e crê em mim nunca morrerá.” (Jo. 11,24-25). Vale lembrar, também, que é uma passagem do AT, e os judeus, por não terem a Revelação plena, como nós temos, criam (e creem) no Hades, como o da mitologia grega: um lugar onde os espíritos só ficam lá, numa eterna letargia. O cristianismo não crê nisso. Ainda, afirma o Senhor: “Perguntais por que não leva o filho a iniquidade do pai! É que o filho praticou a justiça e a equidade e, como observa e cumpre as minhas leis, também ele viverá. É o pecador que deve perecer. Nem o filho responderá pelas faltas do pai nem o pai pelas do filho. É ao justo que se imputará a justiça e ao mau a sua malícia. Se, no entanto, o mau renuncia a todos os seus erros para praticar as minhas leis e seguir a justiça e a equidade, então ele viverá decerto, e não há de perecer.” (Ez. 18,19-21). E São Pedro completa: Por esta razão, o Evangelho foi proclamado mesmo para os mortos, de modo que, apesar de terem sido julgados em carne e osso como todos são julgados, vivam em espírito segundo Deus. (1Pd. 4,6).
Eis alguns exemplos de intercessão (ou de que ela pode ocorrer):

E o Senhor disse-me: "Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de Mim, Meu coração não se voltaria para esse povo; tira-os da Minha face e retirem-se." (Jer. 15,1)

Então tomando-lhe a palavra, disse-lhe Onias: "Eis o amigo de seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus." (II Mac. 15,14)

Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos. (At. 19, 11-12).


A Bíblia também nos mostra que os santos estão conscientes dos acontecimentos terrenos (Lc. 15,17s; 16,27-31; Ap. 6,9ss) e nos dá evidências de que a comunicação é possível entre Céu e Terra, como no caso da Transfiguração do Senhor (Mat. 17) e da parábola do rico e de Lázaro (Lc. 16).
Em resumo, a intercessão dos santos é a mesma que ocorre na terra (p. ex. Moisés intercedendo pelo povo, o Senhor fazendo o milagre em Caná por intercessão de Sua Mãe, os Apóstolos intercedendo pelo povo com milagres extraordinários etc.), a diferença é que no Céu, como afirma Orígenes, a caridade é ainda maior, pois suas almas estão unidas a Deus, contemplando-O. Ou seja, o autor do milagre é Deus, e Ele é o único capaz disso. Porém, ele é feito por intercessão dos santos.
Esta é a crença dos primeiros cristãos [1].


Quanto às esculturas, a Bíblia mostra claramente que a proibição é a estátuas de ídolos, e não se estende a tudo. Os anjos e santos são servos de Deus, não ídolos, e Ele mesmo ordenou a construção de esculturas:

"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubim na extremidade de uma parte, e outro querubim na extremidade de outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele." (Ex. 25,18-19)

“E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido quem olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo.” (Nm. 21,8-9)

O templo de Deus construído ricamente pelo rei Salomão estava cheio de imagens de escultura e Deus se manifestou nesse templo e o encheu de Sua glória. (Ez. 41,17-20; 43,4-6)




Vejamos o que diz o Catecismo da Igreja Católica [2]:

AS SANTAS IMAGENS


1159. A imagem sagrada, o «ícone» litúrgico, representa principalmente Cristo. Não pode representar o Deus invisível e incompreensível: foi a Encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova «economia» das imagens: «Outrora Deus, que não tem nem corpo nem figura, não podia de modo algum, ser representado por uma imagem. Mas agora, que Ele se fez ver na carne e viveu no meio dos homens, eu posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus [...] Contemplamos a glória do Senhor com o rosto descoberto» (33).

1160. A iconografia cristã transpõe para a imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra esclarecem-se mutuamente: «Para dizer brevemente a nossa profissão de fé, nós conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não, que nos foram transmitidas intactas. Uma delas é a representação pictórica das imagens, que está de acordo com a pregação da história evangélica, acreditando que, de verdade e não só de modo aparente, o Deus Verbo Se fez homem, o que é tão útil como proveitoso, pois as coisas que mutuamente se esclarecem têm indubitavelmente uma significação recíproca» (34).

1161. Todos os sinais da celebração litúrgica fazem referência a Cristo: também as imagens sagradas da Mãe de Deus e dos santos. De facto, elas significam Cristo que nelas é glorificado; manifestam «a nuvem de testemunhas» (Heb 12, 1) que continuam a participar na salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Através dos seus ícones, é o homem «à imagem de Deus», finalmente transfigurado «à sua semelhança» (35), que se revela à nossa fé – como ainda os anjos, também eles recapitulados em Cristo: «Seguindo a doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres e a tradição da Igreja Católica, que nós sabemos ser a tradição do Espírito Santo que nela habita, definimos com toda a certeza e cuidado que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da Cruz preciosa e vivificante, pintadas, representadas em mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre as alfaias e vestes sagradas, nos muros e em quadros, nas casas e nos caminhos: e tanto a imagem de nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de nossa Senhora, a puríssima e santa Mãe de Deus, a dos santos anjos e de todos os santos e justos» (36).

1162. «A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para os meus olhos, e, tal como o espectáculo do campo, impele o meu coração a dar glória a Deus» (37). A contemplação dos sagrados ícones, unida à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado se imprima na memória do coração e se exprima depois na vida nova dos fiéis.

33. São João Damasceno, De sacris imaginibus oratio 1, 16: PTS 17, 89 e 92 (PG 94, 1245 e 1248).
34. II Concílio de Niceia (em 787) Terminus: COD p. 135.
35. Cf. Rm 8, 29; 1 Jo 3, 2.
36. II Concílio de Niceia, Definitio de sacris imaginibus: DS 600.
37. São João Damasceno, De sacris imaginibus oratio 1, 47: PTS 17. 151 (PG 94, 1268).

Obs.: São João Damasceno viveu no séc. VIII, e PG significa Patrologia Grega.
Aliás, este mesmo santo escreveu uma apologia em defesa do das imagens sacras [3].


Em relação ao tratamento dado aos santos e anjos, vejamos a diferença entre veneração e adoração. Em sentido estrito, só se pode adorar a Deus, mas em sentido impróprio, não. Antes, ambos eram chamados de adoração: adoração dulia (que é em sentido impróprio), posteriormente chamada de veneração, e a adoração latria (que é em sentido estrito, e só se dirige a Deus). A Bíblia nos dá testemunho disso em vários trechos:

No mesmo ponto abriu o Senhor os olhos a Balaão, ele viu o Anjo parado no caminho com a espada desembainhada, e, prostrado por terra, o adorou. (Núm. 22,31)

Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele. (I Reis 25,23)

Joab, prostrando-se por terra sobre o seu rosto, adorou e felicitou o rei. (II Reis 14,22)

Inclinando-se Betsabé profundamente, adorou o rei. (III Reis 1,16)

Chegou ela e lançando-se-lhe aos pés [de Eliseu], adorou prostrada em terra. (IV Reis 4,36s)

E todo o povo bendisse o Senhor Deus; e se prostraram e adoraram a Deus, e depois ao rei. (I Cro. 29,20)

Se se lê as passagens completas, vê-se que Deus nunca condenou esse culto dulia (hoje chamado, talvez para não haver confusão, de veneração). A veneração não é um culto supremo, mas é honrar, mostrar respeito. Pode-se ler pouco mais sobre isso neste pequeno artigo: 

Sugiro, também, a leitura da narração do martírio dum discípulo de São João Evangelista, São Policarpo de Esmirna: 


A obra atesta no, cap. XIII, que “mesmo antes do martírio, ele já fora constantemente venerado pela sua santidade de vida”, e no cap. XVIII, a guarda e veneração das relíquias do mártir: “Desse modo, pudemos mais tarde recolher seus ossos, mais preciosos do que pedras preciosas e mais valiosos do que o ouro, para colocá-los em lugar conveniente.”

Indico, ainda, a leitura desta obra de São Jerônimo (séc. V), na qual ele defende a veneração dos santos: 


E quanto a se prostrar diante de imagens, prostrar-se não é, necessariamente, adorar:

Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra. (Gênesis 18,2)

Sirvam-te os povos e prostrem-se as nações diante de ti! Sê o senhor dos teus irmãos, e curvem-se diante de ti os filhos de tua mãe! (Gênesis 27,29)

Jacó, levantando os olhos, viu Esaú [...] E ele [Jacó], passando adiante, prostrou-se até a terra sete vezes antes de se aproximar do seu irmão. (Gênesis 33, 1.3)

Desde sua chegada, os irmãos de José prostraram-se diante dele com o rosto por terra. (Gênesis 42,6)

Judá e seus irmãos entraram em casa de José, que estava ainda em sua casa, e prostraram-se por terra diante dele. (Gênesis 44,14)

Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda. (Êxodo 18,7)

Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde diante da arca do Senhor, tanto ele como os anciãos de Israel, e cobriram de pó as suas cabeças. (Josué 7,6)

Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: “Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo!”. (Mateus 18,26)

Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas. (Atos 16,29)


Por fim, recomendo estes vídeos:

2 comentários:

Unknown disse...

"A santidade consiste precisamente nisto: em lutar por ser fiéis, durante a vida; e em aceitar alegremente a Vontade de Deus, na hora da morte."
- São Josemaría Escrivá (Forja, 990)

Unknown disse...

"São santos os que lutam até o fim da vida: os que sempre sabem levantar-se depois de cada tropeço, de cada queda, para prosseguir valentemente o caminho com humildade, com amor, com esperança."
- São Josemaría Escrivá (Forja, 186)

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