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(...) é fácil confundir a liberdade genuína com a ideia de que cada um julga como lhe parece, como se, para além dos indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam, como se tudo fosse igual e tudo se devesse permitir. Neste contexto, o ideal matrimonial com um compromisso de exclusividade e estabilidade acaba por ser destruído pelas conveniências contingentes ou pelos caprichos da sensibilidade. (Exortação Amoris Laetitia, n.34)
Como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimônio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano; estaríamos a privar o mundo dos valores que podemos e devemos oferecer. (Exortação Amoris Laetitia, n.35)
Por vezes pensamos que com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura à graça, já apoiávamos suficientemente as famílias, consolidávamos o vínculo dos esposos e enchíamos de sentido as suas vidas compartilhadas. (Exortação Amoris Laetitia, n. 37)
(...) a rapidez com que as pessoas passam duma relação afetiva para outra. Creem que o amor, como acontece nas redes sociais, se possa conectar ou desconectar ao gosto do consumidor e inclusive bloquear rapidamente. (Exortação Amoris Laetitia, n. 39)
Precisamos de encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio de matrimônio. (Exortação Amoris Laetitia, n. 40)
A própria queda demográfica, causada por uma mentalidade anti-natalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva, não só determina uma situação em que a sucessão das gerações deixa de estar garantida, mas corre-se o risco de levar, com o tempo, a um empobrecimento econômico e a uma perda de esperança no futuro. O avanço das biotecnologias também teve um forte impacto sobre a natalidade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 42)
(...) a Igreja rejeita com todas as suas forças as intervenções coercitivas do Estado a favor da contracepção, da esterilização e até mesmo do aborto ». Estas medidas são inaceitáveis mesmo em áreas com alta taxa de natalidade (...)" (Exortação Amoris Laetitia, n. 42)
(...) uma das maiores pobrezas da cultura atual é a solidão, fruto da ausência de Deus na vida das pessoas e da fragilidade das relações. Há também uma sensação geral de impotência face à realidade socioeconômica que, muitas vezes, acaba por esmagar as famílias (...) (Exortação Amoris Laetitia, n. 43)
A falta duma habitação digna ou adequada leva muitas vezes a adiar a formalização duma relação. Uma família e uma casa são duas realidades que se reclamam mutuamente. (...) devemos insistir nos direitos da família, e não apenas nos direitos individuais. A família é um bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa de ser protegida. A defesa destes direitos é « um apelo profético a favor da instituição familiar, que deve ser respeitada e defendida contra toda a agressão», sobretudo no contexto atual em que habitualmente ocupa pouco espaço nos projetos políticos. (Exortação Amoris Laetitia, n. 44)
Há muitos filhos nascidos fora do matrimônio, especialmente nalguns países, e muitos são os que, em seguida, crescem com um só dos progenitores e num contexto familiar alargado ou reconstituído. (Exortação Amoris Laetitia, n. 45)
(...) a exploração sexual da infância constitui uma das realidades mais escandalosas e perversas da sociedade atual. (Exortação Amoris Laetitia, n. 45)
As perseguições dos cristãos, bem como as de minorias étnicas e religiosas, em várias partes do mundo, especialmente no Médio Oriente...Devem ser apoiados todos os esforços para favorecer a permanência das famílias e das comunidades cristãs nas suas terras de origem ». (Exortação Amoris Laetitia, n. 46)
Merecem grande admiração as famílias que aceitam, com amor, a prova difícil dum filho deficiente. Dão à Igreja e à sociedade um valioso testemunho de fidelidade ao dom da vida. (...) A família que aceita, com os olhos da fé, a presença de pessoas com deficiência poderá reconhecer e garantir a qualidade e o valor de cada vida, com as suas necessidades, os seus direitos e as suas oportunidades. (Exortação Amoris Laetitia, n. 47)
Nas sociedades altamente industrializadas, onde o seu número tende a aumentar enquanto diminui a taxa de natalidade, os idosos correm o risco de ser vistos como um peso. Muitas famílias ensinam-nos que é possível enfrentar os últimos anos da vida, valorizando o sentido de realização e integração de toda a existência no mistério pascal. (Exortação Amoris Laetitia, n. 48)
A eutanásia e o suicídio assistido são graves ameaças para as famílias, em todo o mundo. A sua prática é legal em muitos Estados. A Igreja, ao mesmo tempo que se opõe firmemente a tais práticas, sente o dever de ajudar as famílias que cuidam dos seus membros idosos e doentes. (Exortação Amoris Laetitia, n. 48)
(...) acaba dificultada porque, entre outras causas, os pais chegam a casa cansados e sem vontade de conversar; em muitas famílias, já não há sequer o hábito de comerem juntos, e cresce uma grande variedade de ofertas de distração, para além da dependência da televisão. Isto torna difícil a transmissão da fé de pais para filhos. (...) as famílias habitualmente padecem duma enorme ansiedade; parece haver mais preocupação por prevenir problemas futuros do que por compartilhar o presente. Isto, que é uma questão cultural, vê-se agravado por um futuro profissional incerto, pela insegurança econômica ou pelo medo quanto ao futuro dos filhos. (Exortação Amoris Laetitia, n. 50)
(...) um dos flagelos do nosso tempo que faz sofrer muitas famílias e, não raro, acaba por destruí-las. Algo semelhante acontece com o alcoolismo, os jogos de azar e outras dependências. (Exortação Amoris Laetitia, n. 51)
(...) as uniões de facto ou entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, não podem ser simplesmente equiparadas ao matrimônio. Nenhuma união precária ou fechada à transmissão da vida garante o futuro da sociedade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 52)
Já não se adverte claramente que só a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher realiza uma função social plena, por ser um compromisso estável e tornar possível a fecundidade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 52)
Nalgumas sociedades, vigora ainda a prática da poligamia; noutros contextos, permanece a prática dos matrimônios combinados. (...) Em muitos contextos, e não apenas ocidentais, está a difundir-se largamente a prática da convivência que precede o matrimônio e também a prática de convivências não orientadas para assumir a forma dum vínculo institucional ». Em vários países, a legislação facilita o avanço de várias alternativas, de modo que um matrimônio com as características de exclusividade, indissolubilidade e abertura à vida acaba por aparecer como mais uma proposta antiquada entre muitas outras. (Exortação Amoris Laetitia, n. 53)
Avança, em muitos países, uma desconstrução jurídica da família, que tende a adotar formas baseadas quase exclusivamente no paradigma da autonomia da vontade. (Exortação Amoris Laetitia, n. 53)
Neste relance sobre a realidade, desejo salientar que, apesar das melhorias notáveis registadas no reconhecimento dos direitos da mulher e na sua participação no espaço público, ainda há muito que avançar nalguns países. Não se acabou ainda de erradicar costumes inaceitáveis; destaco a violência vergonhosa que, às vezes, se exerce sobre as mulheres, os maus-tratos familiares e várias formas de escravidão, que não constituem um sinal de força masculina, mas uma covarde degradação. A violência verbal, física e sexual, perpetrada contra as mulheres nalguns casais, contradiz a própria natureza da união conjugal. (Exortação Amoris Laetitia, n. 54)
Outro desafio surge de várias formas duma ideologia genericamente chamada gender, que « nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferenças de sexo, e esvazia a base antropológica da família. Esta ideologia leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher. (Exortação Amoris Laetitia, n. 56)É preciso não esquecer que « sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender) podem-se distinguir, mas não separar». (Exortação Amoris Laetitia, n. 56)
Não caiamos no pecado de pretender substituir-nos ao Criador. Somos criaturas, não somos omnipotentes. A criação precede-nos e deve ser recebida como um dom. Ao mesmo tempo somos chamados a guardar a nossa humanidade, e isto significa, antes de tudo, aceitá-la e respeitá-la como ela foi criada. (Exortação Amoris Laetitia, n. 56)